domingo, 2 de setembro de 2012

TEATRO RÁPIDO SETEMBRO 2012: O TEMPO


Comecei o mês de Setembro a passar algum tempo no Teatro Rápido, que é presentemente um dos espaços mais simpáticos de Lisboa e um onde não se dá pelo tempo passar. O tema do mês é mesmo O TEMPO e as quatro micro-peças que ontem se estrearam falam-nos do mesmo por diversas perspectivas.

Lembram-se dos saborosos GUARDA-CHUVAS DE CHOCOLATE da Regina? Eu lembro-me, bem como a equipa responsável por esta gostosa peça de teatro. Baseado em crónicas de António Lobo Antunes, de quem confesso nunca li nada, mas que agora fiquei com vontade de ler, somos levados ao interior da sala (um excelente trabalho cenográfico de Joana Patrício) de um homem de idade avançada, rodeado por memórias de outro tempo, onde ele recorda a sua infância.
A dar vida a este homem, temos Luciano Gomes, um actor em franca ascensão que aqui nos dá uma brilhante e comovente interpretação, conseguindo tocar-nos na alma e no coração. A simples, mas eficaz, encenação de Paulo Morgado e Ruy Malheiro, deixa o fabuloso texto correr nos lábios e coração do seu actor, sem truques nem lamechices. Voltando a Luciano Gomes, ele tem uma coisa que não se aprende nas escolas de representação; ele consegue criar uma empatia imediata com os espectadores e acredito que isso, associado ao seu talento nato, o vai levar longe. Quanto à peça, é das melhores que já vi no Teatro Rápido. Sabe bem percorrer as memórias da nossa infância. A não perder por razão nenhuma!

Com o longo título de EGAS, BECKER E AS JOELHEIRAS DE AFONSO SOUTO estamos perante um divertido texto de José Mariano Neves, interpretado com um perfeito “timing” cómico por Rafael Costa e Inês Morais. Numa estação de comboios, a fim de fazerem passar o tempo, um homem e uma mulher travam conversa, descobrindo algumas afinidades e uma reacção comum à mostarda. Graças a uma eficaz direcção de Susana Vitorino, os dois actores dão vida a um texto meio surrealista, onde se cruzam diversos assuntos e se revelam segredos. Sem dúvida uma peça muito divertida e deliciosamente atrevida, onde não se dá pelo passar do tempo!  Acreditem, nunca mais vou conseguir ver as joelheiras da mesma maneira!!!

Em A ESTRADA três homens encontram-se numa longa estrada, sem perceberem como ali chegaram, o que ali fazem e como podem sair da mesma. Nesta estrada, o tempo parece durar uma eternidade. Com uma simples encenação, que tira o maior partido do espaço disponível, os três actores (Guido Rodrigues, Frederico Barata e Diogo Fialho) enfrentam o problema com que se deparam com humor e desespero, conseguindo fazer-nos sentir um pouco como eles. Gostei do ar casual das suas interpretações e da química que os une. A sombra de Beckett paira algures por aqui.

Há muito a dizer sobres os livros e ideia por detrás de O LIVRO é interessante, infelizmente o mesmo não posso dizer sobre o que fizeram com ela. Num banco de jardim uma mulher (Dina Santos) lê um livro, sendo interrompida por outra (Sílvia Marques) que fica intrigada com o mesmo; uma terceira mulher (Catarina Guimarães), que utiliza o mesmo banco, acaba por se cruzar com a segunda mulher. Tudo gira em torno desse livro misterioso, mas a acção demora tanto tempo a começar que, por momentos, pensei que a peça nunca iria arrancar. Irritou-me o sorriso convencido, tipo eu tenho um segredo e sou melhor que vocês, da primeira mulher e a sua atitude “new age”. Também não gostei da atitude didáctica da peça e nunca pensei que 15 minutos pudessem ser tão longos; por favor calem aquele pássaro ao fim de poucos minutos. Há uma grande falta de ritmo e de empatia com o público; e para quê tanta mudança de guarda-roupa? O melhor é o aproveitamento do espaço. Lamento, mas foi a pior peça que vi até hoje no Teatro Rápido. 

Com excepção de O LIVRO (acredito que as suas actrizes ainda estão a tempo de imprimir ritmo à peça), este é um bom mês de teatro no Teatro Rápido. Na realidade, duas das melhores micro-peças que vi neste espaço (20 no total), GUARDA-CHUVAS DE CHOCOLATE e EGAS, BECKER E AS JOELHEIRAS DE AFONSO SOUTO, estão em exibição durante todo este mês e uma visita a este espaço é obrigatória para quem goste de teatro e de uma boa forma de passar o seu tempo livre.


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