terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

AVENIDA Q de Jeff Whitty

A História: Luís, um jovem recentemente licenciado, chega à Avenida Q à procura de um apartamento e de um sonho. Aí, conhece Marta Monstra e os dois apaixonam-se, mas uma ordinária de nome Paula Porca ameaça a sua relação. Entretanto, dois velhos amigos que vivem juntos têm problemas, pois quando Félix, um gay no armário, descobre que o seu amigo Joca sabe o seu segredo põe-o na rua. Nesta avenida vivem também a turca Maria, que é noiva de um desempregado que sonha em ser um "stand-up" cómico, o misterioso Trekkie Monstro e o outrora famoso Pequeno Saúl.

O Elenco: Antes de mais, parabéns a todo o elenco pelo excelente trabalho e por me terem proporcionado uma excelente noite de teatro e alegria. Acreditem, todos me surpreenderam pela positiva, revelando um perfeito “comic timing” e excelentes dotes vocais. São todos tão bons que parece injusto destacar alguns, por isso vou falar um bocadinho de todos. Nos papéis principais, Ana Cloe e Samuel Alves são excelentes e partilham uma química que anima os seus bonecos de forma intensa e real. Como Paula Porca, Inês Aires Pereira é deliciosamente ordinária e quando está em palco é difícil não olhar para ela, uma espécie de uma sexy Jessica Rabbit, mas muito badalhoca; adorei a forma como o cabelo de Inês e de Paula combinam tão bem. Manuel Moreira é muito divertido como Félix e, juntamente com Inês, dá vida aos terríveis ursinhos. Rodrigo Saraiva empresta o seu enorme talento e a sua voz grossa e rouca ao Trekkie Monstro e o seu lado doce a Joca. Gabriela Barros manda a casa abaixo com a sua belíssima voz operática no papel de Maria. Como o Pequeno, mas agora crescido, Saúl, Rui Maria Pêgo faz-nos acreditar que a sua vida “é uma merda” e como o noivo de Maria, Diogo Valsassina consegue convencer-nos que não usa cuecas e que não nasceu para “stand-up comedy”. A verdade é que só tenho coisas boas a dizer sobre todos, por isso vão é vê-los, pois eles merecem a vossa atenção e o vosso carinho.

A Peça: Este musical estreou Off-Broadway em Março de 2003 e em Julho do mesmo ano foi transferido para um teatro da Broadway com grande sucesso. Quando chegou a hora dos prémios Tony (os Óscares da Broadway), ganhou Melhor Musical, Melhor Argumento e Melhor Música. Tudo prémios que foram mais que merecidos.

Tive a sorte de ver a produção da Broadway em 2004 e adorei. Quando li que ia estrear uma produção portuguesa deste musical, confesso que fiquei apreensivo e foi com algumas reservas que me dirigi ao Teatro da Trindade no passado sábado, mas também com algum excitamento e muita curiosidade.

Mas que bela surpresa eu tive! Não só adorei a produção, como achei que está ao nível da que vi na Broadway; atrevo-me até a dizer que gostei mais desta. A adaptação da autoria de Henrique Dias e Rui Melo (que também dirige a peça) é brilhante, conseguindo captar o espírito irreverente e policticamente incorrecto do original da autoria de Jeff Whitty e transportá-lo para a realidade portuguesa, por vezes com resultados geniais. Em termos de encenação está muito próxima do original, o que quer dizer que Rui Melo tem em si tudo o que o é preciso para dirigir um musical de sucesso, imprimindo o ritmo certo à peça e dirigindo o seu elenco com mão de mestre.

É impossível resistir aos encantos das marionetas, que são tão humanas quanto os actores que lhes dão vida. A empatia entre eles e o público é imediata e por minha vontade teria ficado horas sem fim na sua companhia.

Para os mais distraídos, para não irem ao engano, isto é uma espécie de uma versão para adultos da RUA SÉSAMO ou d’OS MARRETAS, onde tudo pode acontecer. Apesar de apelar à criança atrevida que há em todos nós, não é aconselhável a crianças muito pequenas. A linguagem é deliciosamente adulta, por vezes hilariante e se há coisa que não falta é sexo... Como alguém diz e muito bem, o sexo vende sempre!

Quanto às canções, da autoria de Robert Lopez e Jeff Marx, são das mais cómicas que foram escritas para um musical e têm uma melodia que as torna apetecíveis. Ficam facilmente no ouvido e se saírem do teatro a trautearem uma ou duas não se admirem. É bom sinal!

No final da sessão a que assisti, o público aplaudiu de pé e pelos sorrisos que vi, os responsáveis por esta produção têm um grande e merecido êxito nas suas mãos. O espectáculo vai estar em exibição até dia 2 de Abril no Trindade e aconselho a reservarem já os vossos bilhetes, para depois não se arrependerem. Pessoalmente, estou seriamente a pensar voltar lá.

Acreditem, vão viver cerca 90 minutos de pura diversão e nunca irão esquecer este AVENIDA Q e as coloridas e irreverentes personagens que por lá vivem! Só mais uma coisa, não se esqueçam que isto é um musical e é suposto aplaudir-se no final de cada canção. Vão lá fazer uma visita a esta AVENIDA Q e depois digam-me o que acharam. E como “tudo nesta vida é só para já” não percam e vão já reservar os vossos bilhetes. A não perder!

Classificação: 9 (de 1 a 10) / Fotos de Paulo Sabino e outros


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