SALÃO LISBOA – O DIÁRIO DE UM ALFACINHA de Fernando Heitor

Em 2019 tive o prazer de assistir no Cinema São Jorge à peça MÁRIO A HISTÓRIA DE UM BAILARINO DO ESTADO NOVO, um tour-de-force do jovem actor Flávio Gil pela mão e palavras de Fernando Heitor. Como em equipa vencedora não se mexe, os dois estão de volta ao São Jorge (e em boa companhia) com este SALÃO LIBSOA.

Conta-nos a história de um alfacinha apaixonado por Lisboa, desde a sua infância à sua velhice. Os seus sonhos, os medos, os amores, os desejos... no fundo tudo aquilo que faz de nós humanos. O seu percurso leva-nos de um Portugal onde a guerra no Ultramar era motivo de terror e fuga, passando pela alegria da Revolução dos Cravos, o flagelo da SIDA, a aprovação do casamento LGBT, tendo sempre como pano de fundo uma Lisboa do passado, do presente e do futuro. No final, literalmente despido de medos e preconceitos, este alfacinha vive com as suas memórias.

O texto de Fernando Heitor está cheio de referências históricas/culturais e de um apurado sentido de humor, mas acima de tudo, dá-nos um personagem tão real como nós, com o qual é fácil sentirmos empatia ou mesmo identificar-nos com este homem gay que acredita que a sua missão é encontrar/viver o amor. A encenação simples vive do seu trio de actores e dos agradáveis momentos musicais da autoria de João Paulo Soares. Tudo flui em palco sem tempos mortos e com um excelente trabalho de iluminação de Paulo Graça, com coreografia de Cláudia Nóvoa que me fez lembrar, com os seus estalos de dedos, uma mistura de Bob Fosse e de marchas populares.

No elenco três jovens e notáveis actores, Bernardo Souto, JP Costa e Flávio Gil, entregam-se de corpo e alma a este alfacinha. Na minha percepção, cada um deles representa um lado do mesmo personagem: Souto é o lado mais cómico, Costa é o lado mais musicado e Gil o lado mais dramático. Juntos são uma força em palco que acompanhamos sempre com interesse, nunca sabendo muito bem o que mais nos vão revelar sobre este alfacinha. 

Gil continua a demonstrar ser um dos melhores e mais versáteis actores da sua geração; Costa, que fazia parte dos bailarinos de CHICAGO, revela-se um excelente actor e Souto, que confesso não conhecia, é uma grande surpresa. Só por si, este trio de actores merece uma visita ao teatro, mas há muito para descobrir nas palavras de Heitor. A não perder!

Elenco: Bernardo Souto, JP Costa, Flávio Gil

Equipa Criativa: Texto e Encenação: Fernando Heitor • Música Original e Canções:  João Paulo Soares • Coreografia: Cláudia Nóvoa • Desenho de Luz: Paulo Graça • Grafismo: Rui Olavo • Guarda-Roupa: Rosário Balbi • Operação de Luz: Pedro A. Moreira • Montagem Técnica: Carlos Rocha • Produção: Executiva: João Paulo Soares e André Camilo • Banda Sonora (Músicos): Gaspar Varela, Diogo Castro e João Paulo Soares

Classificação: 8 (de 1 a 10) / Fotos: Rui Olavo