sexta-feira, 1 de novembro de 2024

A PEQUENA LOJA DOS HORRORES de Howard Ashman

Tudo começou com um pequeno filme de série B a preto e branco, dirigido por Roger Corman, que estreou em 1960 e que se tornou num título de culto. Anos mais tarde, Howard Ashman e Alan Menken transformaram o filme num musical de palco que estreou Off-Off-Broadway em 1982, tendo sido depois transferido para um teatro Off-Broadway onde esteve em exibição durante cinco anos. Em 1986 o musical é adaptado ao cinema com Rick Moranis no principal papel. Em 2003 estreia finalmente uma produção na Broadway (que tive a sorte de ver ao vivo) e em 2019 o musical regressou aos palcos da Off-Broadway, onde ainda continua em exibição.

Agora chegou a vez da perigosa Audrey II aterrorizar os nossos palcos e, se não tiverem medo de ser devorados, recomendo uma visita ao Auditório Joana Princesa, em Lisboa. Aí vão encontrar um bairro pobre e degradado, animado por um trio de jovens cantantes, muito metediças e, por vezes, propositadamente irritantes. Numa das ruas fica a loja de flores do Sr. Mushnik, que está prestes a fechar de vez as suas portas. Na loja trabalha a bonita Audrey, que namora com o violento Orin, e Seymour, um órfão que adora plantas estranhas e tem uma paixão secreta por Audrey. A fim de evitar que a loja feche, Seymour revela ao Sr. Mushnik a sua nova planta, a exótica Audrey II, e perante o olhar incrédulo do patrão a planta revela-se uma atracção. O problema é que Audrey II tem um apetite voraz, e o pobre Seymour depressa descobre que, para ela crescer, precisa de sangue humano fresco.

Se não fosse o Instagram, não teria sabido da existência da Stagedoor Produções, o grupo responsável por esta simpática produção do LITTLE SHOP OF HORRORS, que nada fica a dever à produção que vi na Broadway em 2003. O encenador Pedro Ribeiro tira o máximo proveito do espaço que tem à sua disposição e, se por vezes a iluminação falha, cria o ambiente certo para esta negra comédia musical e coloca-lhe o coração no lugar certo.

O elenco mexe-se bem ao ritmo da música de Alan Menken, numa simples e divertida coreografia da responsabilidade de Sofia Loureiro, e André Lourenço dá-nos uma boa adaptação do texto para português, não perdendo o humor do original.

Sara Claro, Maria Prata e Daniela Onís dão vida ao trio das miúdas da rua, todas com boa voz (especialmente Maria Prata) e com a atitude certa, entre o divertido e o incomodativo (sempre a meterem-se onde não devem). Paulo Oom é um Mushnik cheio de graça e percebe-se que está a adorar cada momento (ou então disfarça muito bem). No papel do terrível Onin e desdobrando-se noutros personagens, Vasco Pereira Coutinho revela-se um excelente cómico. É impossível alguém superar a Audrey original, Ellen Greene (que criou a personagem nos palcos e também no cinema, ficando para sempre associada a este papel), mas Margarida Silva é uma simpática e doce Audrey, com voz de ouro, que depressa nos conquista o coração. Quem também nos conquista é André Lourenço como o desajeitado e tímido Seymour, que quando canta revela uma voz forte e por quem torcemos durante todo o espectáculo. Por fim, temos a terrível Audrey II, a planta carnívora que não é deste mundo, a quem Pedro Paz empresta a sua voz por vezes ameaçadora e André Barroca Sobral manipula sem falhas. 

As famosas canções “Skid Row (Downtown)”, “Somewhere That’s Green” e “Suddenly, Seymour” brilham nas vozes do elenco e é difícil resistir à contagiosa canção título. Tudo isto é mais que razão para irem ver este musical que nada fica a dever à produção que vi, faz muitos anos, na Broadway. O elenco, músicos (sim, a música é ao vivo) e toda a equipa criativa merece a vossa visita e o vosso aplauso... e quem sabe, talvez escapem ao apetite voraz da Audrey II.

Elenco: André Lourenço, Margarida Silva, Vasco Pereira Coutinho, Paulo Oom, Sara Claro, Maria Prata, Daniela Onís, Pedro Paz, André Barroca Sobral

Equipa Criativa: Texto: Howard Ashman • Canções: Howard Ashman e Alan Menken • Adaptação do Texto: André Lourenço • Encenação e Desenho de Cenografia: Pedro Ribeiro • Coregrafia: Sofia Loureiro • Direcção Musical: Pedro Alvadia • Desenho de Luz: Paulo Santos• Figurinos: Mariana Granate • Adereços: Leonor Bivar • Desenho de Som: Gonçalo Carlos • Planta: Gate7 • Cenários: Carla Rosário e Ricardo Neto • Produção: Stagedoor Produções

Classificação: 7 (de 1 a 10) / Fotos: Paulo Sabino e Rafaela do Valle





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