quarta-feira, 6 de março de 2024

NÃO FUI EU de João Ascenso

A primeira vez que ouvi falar de João Ascenso foi no extinto Teatro Rápido (uma excelente ideia que merecia ser recuperada) onde era o encenador da peça “O Amor não é um Fogão” e percebi logo que era um nome a seguir. As suas peças que se seguiram nesse espaço e noutros provaram que eu tinha razão: “Seis... Quase Meia”, “Não Há Culpa”, “Adão e Eva”, “Um Ano Sem Ti” e “A Noite do Choro Pequeno”. Não vi tudo o que ele fez desde então, mas este “Não Fui Eu” mostra que ele continua em grande forma.

A história, uma espécie de “whodunit”, começa com um crime (em voz off) e os quatro suspeitos: o porteiro (desculpem, concierge) do hotel, uma cantora de ópera em fim de carreira, um, pouco convincente, nobre italiano e um suposto engenheiro meio trafulha. Cabe a quatro polícias descobrirem a verdade, com a ajuda do apresentador de televisão Fábio.

Não se assustem com a quase total ausência de cenário, pois ao fim de alguns minutos nem dão pela sua falta. Isso acontece quando, primeiramente: a encenação nos prende, segundamente: os personagens nos cativam, terceiramente: os diálogos são verdadeiramente engraçados e “quarteiramente”: o elenco está em estado de graça. João Ascenso encena com simplicidade, de forma fluída e tirando o melhor partido dos seus actores, que se deliciam com as suas palavras.

Ricardo Barbosa, o porteiro/concierge, e Margarida Moreira, a cantora de ópera, já tinham sido o “Adão e Eva” de João Ascenso e aqui voltam a divertir-nos como dois dos suspeitos: Barbosa também tem imensa graça como o polícia assexuado viciado em jogos e Moreira, na companhia de Francisco Beatriz, são os hilariantes apresentadores de televisão. Os outros dois suspeitos são o já mencionado Beatriz, o nobre italiano, e António Camelier, o engenheiro trafulha: Beatriz deita praticamente a “casa abaixo” como um polícia ninfomaníaco e  Camelier muda completamente de registo como um louco “guru” e como o “bruto” inspector da polícia. Juntos, este quarteto tem imensa química e estão em perfeita sintonia com o espírito da peça.

Esta peça é um antídoto aos tempos negros em que vivemos e acredito que, tal como eu, vão sair bem-dispostos do teatro. Por isso, larguem as redes sociais e o conforto do lar e vão ao teatro! Os actores e João Ascenso merecem o vosso aplauso!

Elenco: Ricardo Barbosa, Francisco Beatriz, Margarida Moreira, António Camelier

Equipa Criativa: Texto: João Ascenso • Encenação: João Ascenso • Desenho de Luz: Henrique Moreira • Assistente de Encenação: Rúben Brandão • Produção: Meia Palavra Basta – Associação Cultural 

Classificação: 8 (de 1 a 10)



















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