Desiluda-se quem for este mês ao Teatro Rápido à espera de ver micro-peças de PURO TERROR, o tema do mês. Nenhuma das quatro peças invoca terror ou apenas medo. A programação deste mês é mais interessante que a de Outubro, mas ainda não está ao nível da qualidade a que me tenho habituado a assistir no TR.
No ambiente lúgubre do cemitério da Sala 1, encontramos um homem que nos fala do seu amor por uma mulher que agora é A MORTA do título e recorda a noite que passou no cemitério. A ideia não é má, mas o actor/criador Hugo Sequeira passa praticamente o tempo todo a gritar o monólogo; a sua interpretação é excessiva e não gera qualquer tipo de empatia com o público. Por vezes não conseguia perceber o que ele dizia e acho que se ele se acalmasse e tivesse uma abordagem mais natural a peça poderia resultar. Como é, achei-a exagerada ao ponto de me começar a dar vontade de rir.
Já pensaram como seria a mente de um psicopata? Bem, na Sala 2 é-nos dado a conhecer as MEMÓRIAS DE UM PSICOPATA; um homem sem interesse na vida que ao interpretar o personagem de um psicopata, descobre o prazer de matar. Pelos menos foi assim que eu percebi esta peça. O actor/criador Bruno Schiappa tem o ar físico certo para a personagem e tem um ar gozado/ameaçador que gostei, mas infelizmente o tom monocórdico da sua interpretação não me convenceu. Também achei o texto um bocado pretensioso, com todas as suas referências literárias. Muito sinceramente, senti que Schiappa quis-nos mostrar que é um homem muito culto e não havia necessidade.
REUNIÃO NA SALA 3 coloca-nos à volta de uma mesa de reunião de uma empresa que vai distinguir os seus melhores e piores vendedores e mais não quero revelar. O que temos aqui é uma crítica negra ao que se passa em muitas empresas, feita com humor com a ajuda de Marc Xavier e interpretada por um bom elenco: Rita Delgado como a diabólica directora, Henrique Calado como um sádico carrasco e Ana Bento e Gabriel Vicente como as suas vítimas. A peça é violenta e tem uma relação directa com o público; mas senti que lhe falta um twist que a poderia tornar mais interessante e negra, gostava de me ter sentido incomodado. Para mim o momento mais eficaz envolve Henrique Calado e um isqueiro, e poderia ser ainda mais eficaz se ele não assobiasse.
E se de repente recebesse uma carta da Segurança Social, iria ficar preocupado certo? É isso que acontece ao casal que recebe A CARTA na Sala 4. O marido está desempregado e a mulher trabalha muitas horas; quando recebem a dita carta, entram em pânico e começam a pensar em soluções possíveis para pagar a dívida que de certeza consta da carta. A actual crise está de volta ao TR, mas aqui numa abordagem bem divertida, escrita e encenada por Hugo Barreiros. O assunto pode ser sério, mas as reacções/soluções deste casal são por vezes hilariantes. Alexandra Rocha e Peter Michael defendem os seus papéis com humor, talento e uma grande cumplicidade; sem dúvida que merecem o nosso aplauso. Para mim esta é a melhor peça deste mês.
Para Dezembro o espírito do Natal deverá invadir o Teatro Rápido e espero que o Pai Natal nos traga uma programação melhor que a dos últimos dois meses. Mas ainda assim, recomendo uma visita à REUNIÃO DA SALA 3 e A CARTA, duas apostas interessantes.
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