Não me levem a mal, mas nos últimos meses a programação do Teatro Rápido tem, com uma ou outra excepção, estado fraca. Tristemente, tenho sentido que o projecto está a perder força e interesse, mas eis que, com o tema DIREITO POR LINHAS TORTAS, voltei a sentir o entusiasmo que me leva a este espaço todos os meses.
Quando entrei na Sala 1 adorei o ar tétrico da mesma que, por razões óbvias, me trouxe à memória o Homem Elefante e a Rainha Má da Branca de Neve. Sentada numa fabulosa cadeira de ferro, uma mulher festeja amargamente o 40º aniversário de um homem encapuçado; este homem representa a nossa revolução de Abril e ela é a voz da ditadura, numa reflexão sobre o que aconteceu e está a acontecer a essa revolução. Com uma encenação brilhante de Rui Neto, que tira o melhor proveito das extraordinárias peças de ferro que formam o cenário e da iluminação, [40] é uma peça política dirigida com precisão e um bom sentido de espectáculo. Joana Figueira tem a figura física exacta e representa o seu papel de forma fria, com grande rigor e uma dicção perfeita; Pedro Oliveira tem uma forte presença física e acreditamos que tem força para vencer a ditadura.
Acho que posso afirmar que CHECK MATER, em exibição na Sala 2, é uma emocional experiência religiosa. Num simples, mas milimetricamente pensado e eficaz cenário de uma igreja, uma devota da Virgem Maria confronta-a com a perda da sua filha, não percebendo porque razão é que ela a faz passar pelo mesmo que ela passou. É uma peça sobre o confronto da fé com a realidade da vida, dirigida com mão de mestre por Susana Vitorino, sobre um poético, mas acessível, texto de Sandra José. No papel da mãe, Susana Vitorino entrega-se de alma e coração à sua personagem, numa interpretação visceral e verdadeira; sem dúvida uma das melhores que tenho visto no TR! Já conhecia o seu excelente trabalho de encenadora (EGAS BECKER E AS JOELHEIRAS DE AFONSO SOUTO, PROFESSOR ROBERTO, SASHA GOLD), mas não fazia a mínima ideia que dentro dela existia uma actriz maior que a vida. E encenar-se a si própria desta maneira é sem dúvida um feito digno do maior aplauso! Uma última palavra para o cartaz de autoria de Luís Covas que, ao contrário do que costuma acontecer com a grande maioria dos cartazes do TR, para além de ser atraente personifica o espírito da peça. Desde GISBERTA e C10H14N2, que não via uma peça dramática que me enchesse tanto as medidas como este CHECK MATER.
Para O CULPADO, a Sala 3 foi transformada numa tasca onde se pode beber uma ginjinha. Aí encontramos dois homens, um dos quais numa maré de azar; perdeu o emprego, a mulher deixou-o e não anda muito bem de saúde. O que ele deseja mesmo é descobrir quem é o responsável por tudo o que lhe está a acontecer. Álvaro Faria escreveu e encena esta comédia que fica entre um sketch dos “Malucos do Riso” e a revista à portuguesa. Não sou grande apreciador do género, mas até que achei piada e me ri com algumas das piadas. Claro que o melhor é a interpretação de Carlos Martins da Fonseca, um perfeito “pintas” gabarola que nunca se cala; como seu amigo, Tiago Peralta nunca consegue abrir a boca, limitando-se, de forma engraçada, a comentar o monólogo do amigo com sons e expressões. É uma peça divertida, que serve de antídoto ao drama que se vive nas outras salas.
Indo DIREITO AO ASSUNTO, confesso que não gostei da peça da Sala 4. Uma jovem acabada de ser violada é interrogada de forma violenta por um inspector da policia que não acredita na sua história. O texto e a encenação são desinteressantes e a má acústica da sala não ajuda nada, pois muitas vezes não conseguia perceber os diálogos. Acho que a ideia não é má, mas Carlos Alves e Ana Campaniço exageram um bocado nas suas interpretações e acho que as mesmas poderiam ganhar se eles fossem mais contidos; ele grita demasiado e a dor dela não se transmite para o público.
Para o mês que vem o Teatro Rápido comemora o 2º aniversário do que espero venham a ser muitos anos. A programação deste mês fez-me acreditar novamente no potencial deste projecto e espero que os próximos meses o confirme. Até lá vão rir-se com O CULPADO, reflectir com o plasticamente brilhante [40] e, principalmente, emocionarem-se com a fabulosa Susana Vitorino em CHECK MATER.
Boa tarde, não concordo nada com o que disse sobre a peça da Sala 4 eu fui mais 8 amigos e todos nós sentimos o que o ator Carlos Alves e principalmente a atriz Ana Campaniço transmitiram, não conhecia de todo o trabalho deste dois atores e fiquei fã tanto eu como todos os meus amigos. São dois atores cheios de talento que tem uma peça muito intensa, confesso que no dia que fui a sala estava cheia e todas as pessoas adoram e algumas delas emocionaram-se com esta peça. Mas são opiniões.
ResponderEliminarNós éramos um grupo de 5 e ninguém gostou. A ideia da peça é interessante, mas acho que um pouco mais de contenção por parte dos actores pode fazer toda a diferença. Acredito que, com a sala cheia, a acústica da sala seja melhor; eu tive muita dificuldade em perceber uma grande parte dos diálogos.
ResponderEliminarTodas as opiniões são válidas e o mais importante é que vamos ao teatro!
O mais importante é reconhecer todo o trabalho que o ator tem para realizar seja o que for. E para mais é uma peça um pouco especial onde através do facebook fiquei a saber que o pai da atriz faleceu há muito pouco tempo. E só pela coragem e a força que ela tem já merece uma salva de palmas de pé!!!
ResponderEliminarConfesso que odiei a peça da sala 4. Achei fraca, demasiado prepotente e francamente mal interpretada.
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