domingo, 11 de agosto de 2013

TEATRO RÁPIDO AGOSTO 2013: PARA ONDE O SOL ME LEVAR


PARA ONDE O SOL ME LEVAR é o tema de Agosto no Teatro Rápido, mas o sol teimou em não dar o ar da sua graça nas micro-peças escolhidas. Todas elas são dramáticas e sem luz, habitadas por personagens amarguradas ou à deriva. O resultado é, para mim, o mês mais fraco do TR. Mas ainda assim há lugar para algumas boas interpretações.

Um inquietante labirinto de plásticos leva-nos ao coração de CIGANO DE LISBOA, em exibição na Sala 1. Um jovem encapuçado fala-nos da sua vida errante, do seu sonho de escritor e da sua curta relação com o avó. A dar vida a este “cigano” temos o jovem Diogo Tavares. Ele tem uma boa dicção, mas o seu tom monocórdico, quase hipnótico, coloca-nos em estado de letargia; falta emoção à sua interpretação. O cenário é brilhante e é uma pena que o encenador Alexandre Tavares não tenha tirado melhor partido dele.

BELO FEIO E ASSIM ASSIM..... é um monólogo sobre um escritor em crise, que com um ar ameaçador nos recebe na Sala 2. Ele amou uma mulher, mas esta quebrou-lhe o coração e agora o que é que lhe resta? O texto de Adriano Teixera é desinteressante, mas é bem defendido por Duarte Grilo; por vezes ele fita-nos intensamente com ar de louco e nesses momentos tememos pelo que nos possa acontecer. Esta micro-peça levantou-me duas questões. Porque razão, se é que há razão, é que ele está a cortar uma cenoura?  Significará que ele sente que a sua masculinidade foi-lhe cortada? A outra questão é de teor físico. Porque é que ele está em tronco nú (por acaso bem torneado)? Será que é para tornar a peça mais atraente, para nos distrair ou quererá dizer que ele se sente despido? Bem, acho que estou a ver coisas onde elas provavelmente não existem. Mas Grilo dá-nos uma boa interpretação e entrega-se totalmente ao seu personagem. Também gostei muito do uso, quase poético, dado a uma simples liquidificadora.

Duas mulheres são “sem abrigo” num país que não é o seu, vivendo do lixo e das esmolas de quem passa. A mais velha, Anna Carvalho, está dada como desaparecida no seu país; a mais nova, Marta Prieto, é ainda uma miúda inocente. Mais para a frente, em BARBONA em exibição na Sala 3, percebemos a ligação entre elas as duas. A história, também de Marta Prieto, é um drama negro encenado de forma envolvente por ambas actrizes. Como a jovem inocente, Prieto é, perdoem-me a sinceridade, completamente apagada pela talentosa Anna Carvalho, que nos brinda com uma sincera e emotiva interpretação, das melhores que tenho visto no Teatro Rápido. Como já devem ter percebido, esta é minha peça favorita do mês. É negra, sem qualquer rasto de luz, mas consegue prender-nos a atenção e Carvalho é excelente.

Na Sala 4, um homem e uma mulher de meia-idade, casados há muitos anos e SOL IDA MENTE JUNTOS, sentem que já não têm nada a dizer um ao outro e interrogam-se sobre o que querem para o futuro. O texto de Tom Lis não traz nada de novo a este mais que batido tema e irritou-me o moralismo do mesmo. Apesar de o tema não ser original, podia ser emotivo, mas não consegui sentir nada e a encenação demasiado convencional e aborrecida de Fernando Gomes não ajuda; é como se ele não tivesse percebido o espírito do Teatro Rápido. As tentativas de humor são falhadas e sem graça. Quanto aos actores, Igor Sampaio e Isabel Damatta, interpretam o texto com profissionalismo, mas sem paixão.

Sou espectador assíduo do TR desde que este espaço abriu e gostava muito de poder dizer que este mês o programa vale a pena; mas acho que os responsáveis pela programação deviam por vezes ter mais cuidado com as suas escolhas. Por vezes o ter-se nomes conhecidos no programa não é sinónimo de qualidade. Seja como for, pelo menos Anna Carvalho e Duarte Grilo merecem a vossa atenção.

Fotos © Mário Pires - www.ruadebaixo.com

2 comentários:

  1. As "duas mulheres" de BARBONA é uma mulher portuguesa que fugiu para Itália, onde lhe chamam "pazza"...

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  2. Não tinha percebido que ela uma portuguesa em Itália. Percebi apenas que ela era uma "sem abrigo" num país que não era o seu. Vou ter que alterar o meu comentário. Obrigado.

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