Antes de mais, devo confessar a minha falta de cultura. Ou seja, apesar de já ter ouvido falar desta famosa peça de Jean Cocteau, nunca a li e nunca vi nenhuma versão da mesma. Assim, não me é possível fazer comparações de qualquer espécie.
Uma fabulosa janela “art deco” domina o cenário de uma sala abandonada, onde os móveis estão cobertos de lençóis e os candeeiros igualmente tapados. É a esta sala que chega uma mulher de meia-idade que aguarda ansiosamente a última chamada telefónica do seu ex-amante (ou marido). Quando o telefone toca, ela corre para o mesmo e é através da sua conversa com o ex-amante que vamos ficar a conhecer esta mulher manipuladora e, talvez, apaixonada.
Durante cerca de uma hora a actriz Carmen Santos ocupa com naturalidade o palco mas infelizmente não o habita. O seu monólogo é interpretado sempre no mesmo tom, sem qualquer tipo de oscilações. Nunca é emotivo, raivoso ou humorístico e senti que a personagem necessitava de demonstrar várias emoções no seu discurso. Mas o maior problema é o som. Tanto eu como outras pessoas com quem troquei impressões no fim do espectáculo se queixaram do mesmo, mal se ouvia a voz de Carmen Santos. Nas cenas em que ela se voltava de costas para o público ou quando ia para o fundo do palco, era quase impossível ouvir ou perceber o que ela dizia. Num monólogo que vive do texto, é lamentável que não se ouça o mesmo. Existem umas coisas chamadas microfones que podem resolver este problema e não me chocava ver a actriz usar um.
Quanto à direcção de Vicente Alves do Ó é sóbria e muito cinematográfica, tal como a música, conseguindo imagens de grande beleza, como por exemplo a silhueta da actriz contra a janela. O cenário de Eurico Lopes é simples, mas de grande beleza, e bem utilizado pelo director e pela actriz. É uma pena que mal se ouça o que ela diz. Quase que dá vontade de gritar da plateia: “Por favor fale mais alto, que eu não a consigo ouvir”.
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