domingo, 30 de março de 2014

EM BAIXO E EM CIMA de Jorge Gomes Ribeiro

Dois vagabundos junto a um baú, algures no universo, falam de várias coisas, recordam-se de outras, sem saberem o que vai ser da sua vida.

Sabem aquela estranha sensação que se tem quando algo nos faz sentir estúpidos? Foi isso que senti quando esta peça terminou. Confesso que essa sensação já tinha começado antes da peça começar, ao ler as “Notas de Encenação” que dizem coisas como “o absurdo da significação ou “o discurso subordinado a efeitos não verbais e a inadequação constante do diálogo”.

Beckett é considerado o mestre do teatro do absurdo e esta peça não foge a esse universo. Assim não temos uma história (algo que para mim é praticamente indispensável), mas sim diálogos entre dois personagens, um mais optimista e sonhador, o outro mais pessimista e realista. Por vezes dizem coisas interessantes (direcção vs percurso), outras vezes nem por isso (a história da bicicleta). O facto da peça, da autoria de Jorge Gomes Ribeiro (também responsável pela encenação) ter pontos mortos em que nada acontece também não me ajudou, mas a verdade é que não sou talhado para este tipo de peças.

Quanto aos actores, existe uma notária diferença entre duas escolas de interpretação, a naturalista e a “teatral”, com o optimista a optar pela primeira e o pessimista a optar pela segunda. Sempre fui a favor da linha naturalista e fiquei agradavelmente surpreendido com a excelente e divertida interpretação de Sérgio Moras como o optimista; ele é quem dá vida, luz e cor a esta peça. Como o pessimista, Sérgio Moura Afonso tem uma pose mais séria, mais dramática e, num papel secundário, Ruy Malheiro tem infelizmente muito pouco para fazer.


Acredito que muita gente goste deste tipo de teatro e até perceba o que se passa no palco, mas eu não sou um deles. Mas valeu a pena ver a peça, pois assim descobri o talentoso Sérgio Moras. Este actor consegue fazer algo que eu acho que deve ser muito difícil, que é interpretar de forma natural um texto muito literário.


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