sábado, 14 de outubro de 2023

THINGS I KNOW TO BE TRUE de Andrew Bovell

Um casal (ele um sexagenário no desemprego, ela uma enfermeira) com quatro filhos já bem crescidos veêm-se confrontados com a realidade da vida destes. Pip é uma mulher de sucesso disposta a deixar o seu casamento para viver uma nova paixão, Mark não se sente confortável no seu corpo masculino e está no processo de se tornar uma mulher, Ben quer aparentar ser tão rico como os seus novos amigos e não olha a meios para o conseguir, e Rosie viu o seu coração ser destroçado por um jovem e não parece saber que rumo dar à sua vida.

Escrita em 2016 pelo dramaturgo australiano Andrew Bovell, o texto não podia ser mais actual, falando de forma simples, mas com uma linguagem muito rica, de diversos temas com que facilmente nos podemos identificar. Esta família é tão real como as nossas e a empatia que se cria entre os personagens, vividas por um excelente elenco e nós, o público, é imediata. Utilizando o cenário único de um jardim de rosas, nas mãos do diretor António Carlos Andrade a história vai-se desenrolando sem sobressaltos perante o nosso olhar, num crescendo emocional que nunca cai na “lamechice” a que por vezes alguns dos acontecimentos se prestam. Andrade é um diretor de grande sensibilidade e com sentido de humor, duas coisas que servem na perfeição esta peça.

O The Lisbon Players tem-me habituado a ver sempre excelentes actores em palco e aqui não me decepcionaram, antes pelo contrário! Como os pais, Celia Williams e Mick Greer  não podiam ser mais credíveis e a química entre eles transborda para fora do palco. Quanto aos filhos, como Pip, Inês Herédia arrebata-nos a todos com a força que dá à sua personagem; como Ben, Martim Mesquita Guimarães dá-nos um personagem frágil, nervoso a quem, apesar das suas acções, apetece dar um abraço; Elizabeth Bochmann dá à sua Rosie a frescura de uma adolescente meio inocente que se vê obrigada a ter que crescer. Fiz questão de não ler o programa da peça antes de a ver, pelo que não sabia se o papel de Mark/Mia era interpretado por um homem ou mulher e, durante toda a peça, Eduarda Arriaga conseguiu a proeza de me deixar na dúvida até ao fim. As dores e alegrias de todos eles tocam-nos no coração e foi muito bom estar na sua companhia.

Eu sei que a peça é falada em inglês, mas é daqueles que merece a vossa atenção e acreditem que, se a forem ver, terão uma excelente noite de teatro!

Elenco: Eduarda Arriaga, Elizabeth Bochmann, Mick Greer, Inês Herédia, Martin Mesquita Guimarães, Celia Williams

Equipa Criativa: Texto: Andrew Bovell • Encenação: António Carlos Andrade • Assistente Encenação e Coreografia: Cori Anne Simões • Cenário: Alexandra Bochmann • Desenho de Luz: Miguel Cardoso • Stage Management: Guilherme Bonito & Marta Nagy • Poster: Beatriz Silva • Produção: The Lisbon Players 

Classificação: 8 (de 1 a 10) 





Sem comentários:

Enviar um comentário