Pedro Henrique é um empresário de sucesso com uma doença terminal. Há uns anos perdeu toda a sua família e o seu melhor amigo num acidente de avião e, como tal, nunca conseguiu resolver os problemas que teve com todos eles. Contrata então um grupo de actores para passarem uma semana com ele interpretando os seus familiares e amigo, pensando que assim irá poder aliviar a consciência antes de morrer... mas os actores improvisam e criam situações inesperadas pelas quais ele não esperava.
“Le retour de Richard 3 par le train de 9h24” começou por um ser um filme que estreou em 2019, realizado por Eric Bu e com argumento de Gilles Dyrek. Uns anitos mais tarde, também pelas mãos de Bu e Dyrek, é encenado nos palcos franceses, onde este ano foi nomeado para os prémios Moliere na categoria de Melhor Comédia. E agora chega a nós e é muito bem-vindo.
Uma comédia, por vezes dramática, onde a fronteira entre a vida real e o teatro se confunde, provando o velho cliché “que a vida é um palco”. Entre cenas caóticas, por vezes hilariantes, e outras dramáticas, Ricardo Neves-Neves vai-nos baralhando com graça, dando-nos um retrato de uma família disfuncional igual a tantas outras e onde é fácil reconhecermos pontos comuns com as nossas vidas. A peça é tanto sobre a família, como também sobre a vida de actor e a forma como as duas se fundem é o coração/alma desta peça.
Quanto ao elenco, está em estado de graça, onde todos, excepção para Adriano Luz como Pedro, interpretam papéis duplos: são os actores e os familiares. Confesso que quando a peça começa e, mais uma vez excepção para Adriano Luz, o elenco representa de forma exagerada, fiquei assustado..., mas depois percebi que tudo fazia parte da trama e respirei de alívio.
Começando por Adriano Luz, o seu Pedro é um homem solitário desesperado por fazer as pazes com a sua consciência. Os mais divertidos são Rui Melo, o actor que como o seu filho provoca o caos com as suas improvisações, e Susana Blazer, a esposa/actriz dada a grandes demonstrações de emoções. Como a irmã, Ana Nave é a actriz veterana em busca de trabalho e mais interessada no seu guarda-roupa do que na sua personagem; já Jessica Athayde, tenta encontrar motivação para representar a filha e não está muito certa se ser actriz é o seu destino. Miguel Thiré, o amigo brasileiro, acredita que têm que se entregar de corpo e alma aos personagens, mas também é importante ser um sedutor. Samuel Alves é o filho inicial que abandona a peça excitado com a hipótese de contracenar com Leonardo di Caprio, que mais tarde volta à história. Uma última palavra para Raquel Tillo, a nora odiada que demonstra toda a sua versatilidade como actriz ao dar nova vida à personagem da filha. Juntos dão-nos cerca de duas horas de boa disposição e de bom teatro, tendo sido com agrado que os aplaudi de pé!
Uma peça e um elenco que merecem a vossa visita. Por isso corram a comprar bilhete para este comboio, antes que o mesmo parta da estação!
Elenco: Adriano Luz, Ana Nave, Jessica Athayde, Miguel Thiré, Raquel Tillo, Rui Melo, Samuel Alves, Susana Blazer
Equipa Criativa: Texto: Gilles Dyrek • Tradução: Ana Sampaio • Cenário: Catarina Amaro • Desenho de Luz: Luís Duarte • Figurinos: Rafaela Mapril • Assistente Encenação: Sónia Aragão • Produção: Força de Produção • Encenação: Ricardo Neves-Neves
Classificação: 7 (de 1 a 10) Fotos: Joana Linda
Sem comentários:
Enviar um comentário