domingo, 2 de novembro de 2025

SCROOOGE de Charles Dickens

O famoso conto de Natal de Charles Dickens (A CHRISTMAS CAROL) já foi alvo de diversas adaptações, para o cinema, teatro e televisão. Desta vez chega aos nossos palcos pela mão da companhia Embuscada, numa pequena, mas simpática produção.

A história do rabugento Scrooge e o seu ódio ao Natal é, praticamente, conhecida de todos. Na noite de Natal ele recebe quatro estranhas visitas, o fantasma do seu antigo sócio, o duende do passado, o do presente e o do futuro. Estes vão acabar por o fazer mudar de atitude perante a vida e o Natal.

Sim, disse duendes e não fantasmas, não é engano. Esta produção está feita a pensar no público infantil e duendes são menos assustadores que fantasmas. Mas o espírito do clássico de Dickens está lá todo e a sua mensagem é tão ou mais relevante hoje do que à data da sua publicação em 1843. Não sei se as muitas crianças presentes percebem a mensagem, mas assistiam a tudo com muita atenção, sempre prontas a intervir quando convidadas a fazê-lo (e às vezes sem serem convidadas), criando um ambiente muito engraçado.

Tiago de Almeida optou por uma encenação em que “menos é melhor”, apostando no elenco, na simplicidade do cenário e em conseguir criar imagens que não existem fisicamente, mas apenas no mundo da imaginação. Como é meu hábito com esta história, fico sempre comovido e as lágrimas insistem em sair, mas são lágrimas de felicidade. Acredito que a todos nós, faria muito bem receber a visita destes duendes.

João Marques, com seu sobrolho carregado e grande altura, é um Scroooge intimidante, sem humor, mas o seu olhar revela o turbilhão de emoções que os duendes lhe provocam e acaba por nos conquistar. Os outros três actores, Marta Lopes Correia, Rafael Rua e Silvia Mirpuri, desdobram-se naturalmente em diversos papéis, criando empatia com o público e conquistando a miudagem presente. Os quatro actores interpretam com boas vozes as alegres músicas da autoria de António Andrade Santos; neste campo Mirpuri foi uma revelação para mim. Só tive pena que o personagem do Scroooge não cantasse mais, mas quando o faz, fá-lo muito bem. 

Passei uma tarde muito agradável na companhia deste elenco e gostei de revisitar o clássico de Dickens. Por isso, façam como eu, não sejam uns “tretas” e vão visitar este SCROOOGE e seus companheiros!

Elenco: João Marques, Marta Lopes Correia, Rafael Rua e Silvia Mirpuri

Equipa Criativa: Criação, Encenação e Espaço Cénico: Tiago de Almeida • Músicas: António Andrade Santos • Figurinos: Milá Bastos e Embuscada • Desenho de Luz: Tiago de Almeida • Operação Técnica: Bruno Águas, Catarina Marques Ramos e Tiago de Almeida • Cenografia: Embuscada • Direcção de Produção: Catarina Marques Ramos • Produção: Embuscada • Promotor: Boutique da Cultura

Fotos: Mafalda Lopes





terça-feira, 21 de outubro de 2025

A VELHA SENHORA de Márcia Cardoso

Mesmo a tempo do Halloween, uma família de vampiros chega ao Cine-Teatro Turim em Benfica. Eles são um quarteto de sugadores de sangue, saudosistas dos tempos anteriores à Revolução de Abril e completamente contra a liberdade... até o sangue perdeu a qualidade. A fim de recuperarem o poder perdido, decidem invocar a Velha Senhora e sofrer as possíveis consequências de o fazerem.

Pois é, esta comédia original escrita e encenada por Márcia Cardoso, faz-nos rir de coisas sérias e, felizmente, não tem receio de ser politicamente incorrecta. O resultado é uma noite de pura diversão, onde as gargalhadas são muitas e o gozado lado “queer” dá-lhe um toque muito especial. Cardoso dirige com mão segura, tirando o melhor proveito do elenco ao seu dispor e aproveitando da melhor forma o palco.

O elenco diverte-se imenso com os seus personagens e são todos irresistíveis. Como o líder dos vampiros, Francisco Beatriz é o sexy Salazar (o nome diz-vos qualquer coisa, certo?) e a seu lado Marta Gil é Marcela, que deseja ser sua esposa. Ricardo Barbosa, é Higino, um vampiro gay com uma paixoneta por Salazar e Diana Vaz é Salette, a nova vampira, que até pode ser comunista... cruzes, credo! Por fim, temos a Velha Senhora, de nome Dita Duras, encarnada em puro delírio drag por um António Ignês em estado de graça. Confesso, que com tantos pequenos e engraçados pormenores a acontecerem em palco, por vezes não sabia para quem olhar. Se calhar preciso de lá voltar, mas tenho receio de ser mordido...

Temo que esta peça passe despercebida, e seria uma pena que assim fosse. Por isso, corram ao Turim! Aproveitem para rir com vontade, aprenderem “coisas novas (chuca tântrica?), deliciarem-se com o erotismo contido... e quem é que nunca quis ser um vampiro? Eu adorava ser um! Venham daí, não se levem a sério e não percam esta peça!

A peça está em cena até 7 de Dezembro, de quinta a sábado às 21.30h e domingos às 17:00h.

Elenco: António Ignês, Diana Vaz, Marta Gil, Francisco Beatriz, Ricardo Barbosa e João Tempera (Voz)

Equipa Criativa: Encenação: Márcia Cardoso • Texto:  Márcia Cardoso • Assistente de Encenação: Joana Almeida • Desenho de Luz / Operação de Luz: Paulo Rodrigues e Rúben Brandão • Sonoplastia: António Beatriz • Figurinos: João Telmo • Guarda-Roupa: Besta de Estilo • Produção: Meia Palavra Basta – Associação Cultural • Projecto Apoiado pela Fundação GDA e Junta de Freguesia de Benfica

Fotos: Alípio Padilha



O SENHOR PAUL de Tankred Dorst

O senhor Paul vive com a sua irmã num edifício decadente, de onde ele nunca sai. Passa a vida deitado num sofá, em puro estado de letargia. Um dia, aparece o jovem herdeiro da antiga senhoria, com a intenção de o convencer a sair dali, recuperar o edifício e montar um negócio rentável. Mas as coisas não vão correr como o jovem espera.

Apesar de ter sido escrita em 1994 por Tankred Dorst, a peça é tão actual que podia ter sido escrita hoje. Na encenação sóbria, mas repleta de humor, de Álvaro Correia, depressa somos manipulados a tomar o lado do Sr. Paul e é com muita curiosidade que seguimos o que vai acontecendo. Adorei o estado caótico em que o palco vai ficando.

O elenco é todo muito bom, com destaque para Miguel Loureiro como o inteligente, manipulador e letárgico Sr. Paul e José Pimentão como o desesperado herdeiro. Mas a nossa atenção, pelo menos a minha, foi para Lia Carvalho como a namorada do herdeiro. Uma verdadeira lufada de ar fresco e um furacão “verde” de energia; é difícil desviar o olhar dela sempre que está em palco. Mas todos merecem o nosso aplauso e recomendo uma visita a este Sr. Paul. Não se vão arrepender.

Elenco: Carlos Malvarez, Íris Cañamero, José Pimentão, Lia Carvalho, Maria José Paschoal e Miguel Loureiro

Equipa Criativa: Encenação: Álvaro Correia • Texto: Tankred Dorst • Tradução: Vera San Payo de Lemos • Cenografia: André Guedes • Figurinos: Marisa Fernandes • Desenho de Luz: Manuel Abrantes • Música: Vitória • Video: • Ponto: • Produção: T

Fotos: Filipe Figueiredo



sábado, 18 de outubro de 2025

GREASE, O MUSICAL de Jim Jacobs & Warren Casey

Em Maio de 1979 estreava nos nossos cinemas GREASE, com Olivia Newton-John (no seu melhor registo Sandra Dee) e John Travolta (acabadinho de sair de SATURDAY NIGHT FEVER e um bocado canastrão) como o casal romântico cujo amor é posto à prova no liceu e que obriga a pobre Sandy a mudar o seu estilo para conquistar o seu homem; tudo ao som de uma banda sonora nostálgica de homenagem aos anos 50. Sim, hoje o musical, que estreou na Broadway em 1971, seria cancelado pela cultura “woke”. Onde já se viu uma rapariga deixar de ser quem era para conseguir o seu homem? 

Muitos anos mais tarde, em 1993, tive o prazer de ver em Londres uma produção fabulosa deste musical e foi quando fiquei a saber que as canções “Grease”, "Hopelessly Devoted to You", "Sandy" e "You're the One That I Want" não faziam parte do original da Broadway e tinham sido escritas de propósito para o filme. As mesmas foram integradas com sucesso nesta produção londrina.

E agora foi a vez de ver uma produção portuguesa deste musical, que segue a produção de Londres em termos de canções e, se é verdade que não adorei, diverti-me imenso. O elenco em palco tem energia e talento para dar e vender, mas as desinspiradas coreografias não os ajudam e parece não haver uma continuidade na encenação, como se fosse apenas uma colagem de números musicais. Muito sinceramente, acho que esta sensação é provocada pelo facto de as canções serem cantadas em inglês enquanto os diálogos são em português, isto provoca um corte que não ajuda a produção. 

Mas o melhor é mesmo o elenco. Mariana Marques Guedes é uma inocente Sandy, cujo melhor momento é o famoso "Hopelessly Devoted to You", Bryan Carvalho é um Danny maniento, mas verdadeiramente apaixonado por “Sandy”. Como Jonny Casino, Luís Santos Mascarenhas (o diabo de AS BRUXAS DE EASTWICK) dá-nos o energético "Born to Hand Jive", mas tal como o número “We Go Together”, a coreografia não ajuda e é uma pena, pois Mascarenhas é um excelente bailarino.

Para mim os melhores momentos da peça são o “Mooning”, onde José Valente e Maggie Campos brilham, e "Beauty School Dropout" (a minha canção favorita deste musical) onde Rogério Maurício (A FAMÍLIA ADDAMS), ao melhor estilo de Liberace, aconselha Frenchy.

Curiosamente, ao contrário do resto da peça, o sing-along final faz sentido ser em inglês e o espectáculo acaba em apoteose de festa com elenco e público a cantar e a dançar. É contagioso e saímos bem dispostos do teatro, o que já é muito bom nos tempos negros que vivemos.

Elenco: Alexandra Pato, Bryan Carvalho, Carolina Puntel, Inês Martins, Inês Pedro de Campos, José Valente, Kkappa, Luís Santos Mascarenhas, Maggie Campos, Maria Barros, Mariana Marques Guedes, Marta Rito, Miguel Barroso, Pedro Alma, Ricardo de Sá e Rogério Maurício 

Equipa Criativa: Encenação: Paulo Sousa Costa • Assistência de encenação: Diogo de Carvalho e Luís Pacheco • Texto e Canções: Jim Jacobs & Warren Casey • Tradução: M. B. Santos • Direção Musical: Carolina Puntel • Coreografia: Mariana Luís e Pedro Borralho • Cenografia: Fred Klaus • Figurinos: Fred Klaus e Sofia Lima • Adereços e Perucas: Afonso Judicibus • Confeção de Figurinos: Sofia Lima e Ana Cristina Santos • Assistência de Figurinos: Carolina Almeida e Lara Jean • Produção: Yellow Star Company

Fotos: José Frade, Elsa Furtado, Ben do Rosário






























quarta-feira, 8 de outubro de 2025

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS de Lewis Carroll

O clássico de Lewis Carroll tem sido alvo de diversas adaptações, sendo talvez a mais famosa a versão “light” da Disney, ou a mais negra e recente de Tim Burton. Agora chega aos nossos palcos uma nova adaptação musical à portuguesa.

A história é praticamente conhecida por todos (ou assim quero acreditar). A jovem Alice vai parar ao “país das maravilhas” onde a loucura abunda, a lógica não existe, o absurdo é normal e um grupo de personagens excêntricas dão com ela em louca. Alice bem tenta “normalizar” as coisas... mas afinal o que é o normal? Neste aspecto, a adaptação de Maria João da Rocha Afonso e a encenação de Marco Medeiros (que recentemente nos deu TELHADOS DE VIDRO) faz jus à obra, numa sucessão de cenas divertidas, caóticas e diálogos absurdos. Tudo num cenário imaginativo, onde todos se movimentam com graça e facilidade. 

Só tenho uma coisa a apontar, algo que tem acontecido em alguns musicais que tenho visto por cá, o som da orquestra é demasiado alto. Dificulta assim a percepção das letras das canções e, por vezes, de alguns diálogos. Mas presumo que é um problema fácil de se resolver. Quanto às canções originais, de vários géneros musicais, servem bem a acção, sem haver nenhuma que se destaque particularmente. As minhas preferidas são a que Alice canta junto das flores que estão a ser pintadas e o número da Rainha das Copas.

No palco, um grupo de actores talentosos (ou poderei dizer malucos?) dá vida a personagens sem juízo, cheios de energia e ritmo. Tal como no livro, a personagem menos interessante é Alice, aqui interpretada por uma propositadamente deslocada Soraia Tavares (a Velma Kelly de CHICAGO). É um prazer reencontrar em palco dois dos actores de A FAMÍLIA ADDAMS, Ruben Madureira e Alexandre Carvalho, aqui como dois bem-dispostos e dançantes gatos. Rita Tristão da Silva dá-nos uma chapeleira louca cheia de vida, sempre com o risco de perder a cabeça... bem, todos correm o risco de perder a cabeça. FF é o sempre atrasado, desengonçado e engraçado coelho. Gostava de ter visto um pouco mais do cozinheiro de Romeu Vala. Mariana Lencastre e JP Costa ajudam a manter o palco animado. A grande surpresa para mim foi ver Diogo Mesquita (que descobri há anos no Teatro Rápido, na peça O AMOR NÃO É UM FOGÃO) como a deliciosa e elegante duquesa. Por fim, temos Sissi Martins que rouba a atenção com a sua louca Rainha de Copas, movendo-se com destreza pelo palco e sempre com graça.

É verdade que é um musical barulhento, por vezes confuso na sua louca encenação, mas o País das Maravilhas é muito mais interessante que o nosso e ser-se um louco saudável é uma bênção. Visitem esta ALICE, o elenco agradece e acredito que se vão divertir.

Elenco: Alexandre Carvalho, Diogo Mesquita, FF, JP Costa, Mariana Lencastre, Rita Tristão da Silva, Romeu Vala, Ruben Madureira, Sissi Martins, Soraia Tavares
 
Músicos: André Galvão, Artur Guimarães, Carlos Meireles, João Valpaços, Marcelo Cantarinhas, Tom Neiva

Equipa Criativa: Encenação: Marco Medeiros • Texto: Lewis Carroll • Tradução e Adaptação: Maria João da Rocha Afonso • Música e Direcção Musical: Artur Guimarães • Direção Vocal e Assistência à Direção Musical: Carlos Meireles • Cenografia (conceção e construção): Ângela Rocha • Figurinos: Rafaela Mapril • Desenho de Luz: Marco Medeiros • Desenho de Som: Sérgio Milhano • Movimento: JP Costa • Assistência de Encenação: Rebeca Duarte • Apoio à Construção da Cenografia: Catarina Sousa, Filipe Dominguez, Jorge Miguel e Rita Cabrita • Fotografia Cartaz e Spot TV: Pedro Macedo – Framed Photos • Produção: Teatro da Trindade INATEL

Fotos: Alípio Padilha & Inês Barrau






terça-feira, 30 de setembro de 2025

COMPANY de George Furth

Estreado em 1970 na Broadway, pode dizer-se que foi o musical que definiu a carreira do compositor e letrista Stephen Sondheim, até então mais famoso por ter escrito as letras para WEST SIDE STORY e GYPSY. Este COMPANY foi o primeiro de uma série de musicais (FOLLIES, A LITTLE NIGHT MUSIC, PACIFIC OVERTURES, SWEENEY TODD e MERRILY WE ROLL ALONG) que Sondheim fez com o director Harold Prince que mudaram/influenciaram para sempre o teatro Musical. Na sua estreia na Broadway, ganhou Tonys para Melhor Musical, Melhor Libreto (Book), Melhor Música e Melhores Letras

O musical gira em torno de Bobby, um solteirão prestes a festejar o seu 50º aniversário, para quem os seus amigos casados preparam uma festa surpresa. Durante a acção, vamos assistindo a vários momentos da sua vida com estes casais e com as suas três namoradas, onde as relações amorosas (ou falta delas) são postas em causa. Mas no fundo, o importante é sentirmo-nos vivos e é o amor que nos faz sentir isso.

Em 1996 tive o prazer de ver uma pequena produção deste musical em Londres e fiquei complemente rendido à mesma. Quando soube que íamos finalmente ter uma produção portuguesa, fiquei logo muito entusiasmado e desejoso de ver. Sabia que traduzir as letras de Stephen Sondheim para português não seria tarefa fácil, mas não é impossível, como prova Henrique Feist. Verdade, há uma coisa ou outra que pode não soar tão bem em português, mas no geral diria que Feist se portou muito bem. Enquanto director da peça optou por um cenário frio, mas eficaz, onde os actores se movem à vontade, dando-lhe vida e humor. Tenho só duas coisas a apontar. Primeira, no dia em que fui ver, o som da orquestra estava por vezes demasiado alto, abafando as vozes dos actores e dificultando a percepção das letras (após o intervalo isso já não aconteceu). Segunda, achei a iluminação por vezes um pouco exagerada, com holofotes fortes que desnecessariamente iluminavam o palco e os actores. Em termos de movimento e coreografia a peça corre sobre rodas, sem pontos mortos e sempre com algo de interessante a acontecer no palco. Na direcção de actores, Feist não falha, tirando o melhor partido de cada um dos membros do seu notável elenco.

Para um musical destes funcionar, precisa de um excelente grupo de actores e Henrique Feist conseguiu reunir um talentoso grupo para dar vida às coloridas e bem vivas personagens deste COMPANY. O Bobby de Feist é tenso e demasiado sério (um pouco mais de humor ter-lhe-ia ficado bem), em contraste com a “loucura” de todos os outros; mas o seu “Being Alive” é dramaticamente forte. Por razões óbvias, pois as personagens femininas são mais interessantes que as masculinas, o maior destaque vai para as actrizes. Bárbara Correia, com o karaté que pratica com seu marido Diogo Leite. Margarida Silva e Bruno Madeira são o casal que alegremente se vai divorciar e, mais à frente, Silva dá corpo e voz à cantora lírica do casamento. A pedrada de marijuana de Rafaela Monteiro, partilhada com o marido Martim Mesquita Guimarães e com Feist. A Ana Capote, enquanto a noiva decidida a não casar, cabe talvez a canção mais “difícil” de todo o musical, “Getting Married Today”, enquanto o marido apaixonado, Valter Mira, tenta não desesperar. Wanda Stuart, como a amiga rica, arrasa completamente com o seu “The Ladies Who Lunch”, perante o olhar atento do marido Pedro Pernas. Por fim, as três namoradas, Filipa Azevedo, Vânia Blubird e Debbie Monteiro, cada uma com uma personalidade muito distinta, dão-nos o delicioso “You Could Drive a Person Crazy”.

Para mim um dos melhores momentos é o primeiro número do segundo acto, “Side by Side”, onde Bobby e os seus amigos cantam, dançam e se divertem, dando vontade de nos juntarmos à festa. Desde a primeira vez que ouvi o vinyl do COMPANY que me apaixonei pelas suas canções, e foi um enorme prazer vê-las no palco, nas mãos deste elenco que merece a vossa visita. 

No dia em que fui ver, a plateia estava muito “séria” e fui praticamente sempre eu a começar a aplaudir no final de cada número; por isso, façam-me um favor - quando forem ver, não tenham medo de aplaudir! É um musical, é suposto aplaudir-se, faz parte da festa! Este COMPANY é uma festa divertida, que faz pensar e onde as gargalhadas são muitas (principalmente as minhas). 

Elenco: Henrique Feist, Wanda Stuart, Pedro Pernas, Ana Capote, Valter Mira, Bárbara Correia, Diogo Leite, Rafaela Monteiro, Martim Mesquita Guimarães, Margarida Silva, Bruno Madeira, Filipa Azevedo, Vânia Blubird, Debbie Monteiro

Equipa Criativa: Encenação: Henrique Feist • Texto: George Furth • Canções: Stephen Sondheim • Tradução: Henrique Feist • Direcção Musical: Nuno Feist • Direção Criativa: Valter Mira • Cenografia: Ana Paula Rocha e FR Santos Produções • Desenho de Luz: Paulo Santos • Desenho de Som: Gonçalo Carlos • Direção Vocal: João Henriques • Direção de Produção: Sílvia Peyroteo • Designer: André Piçarra • Publicidade e Promoção: Nuno Vieira Conteúdos •  Redes Sociais: João Albuquerque Alves • Assistente de Encenação: Jonas Cardoso • Guarda Roupa: El Corte Inglês • Corte e Styling de Perucas: Marco Santos • Manutenção de Perucas: Guilherme Gamito • Produção: Artfeist Lda

Fotos: Fred Matt & Elsa Furtado








terça-feira, 16 de setembro de 2025

ARTE de Yasmina Reza

Três amigos. Um quadro totalmente branco, com riscas brancas, de um aclamado artista (reparem que não digo pintor). Uma amizade posta em prova. Estes são os ingredientes desta divertida comédia que teve a sua estreia nos palcos parisienses em 1994, a que se seguiram produções de sucesso em Londres e na Broadway. Por cá, teve a sua estreia em 1998 no Teatro Villaret, com António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme, tendo voltado a esse palco em 2003.

27 anos depois da sua estreia entre nós, ARTE volta tão actual e divertida como na produção original (tive a sorte de a ver dessa vez) e atrevo-me até a dizer que com maior química entre os três actores. 

Num cenário minimalista (a condizer com o quadro)  desenrola-se uma história aparentemente, simples. Sérgio compra o referido quadro por uma elevada quantia; Marco nem quer acreditar que o seu amigo gastou tanto dinheiro “naquela merda”; Ivo quer agradar a ambos, enquanto lida com o stress do seu iminente casamento. Tudo isto pontuado com um texto que nos coloca algumas questões tão pertinentes hoje como quando a peça foi escrita. Será possível ser-se amigo e ter-se gostos diferentes? Até que ponto nos devemos apagar para agradar aos outros? Devemos ser totalmente honestos com os nossos amigos? O que é mais importante, a amizade ou a verdade? Afinal o que é a arte? Como dizia o grande Stephen Sondheim, “a arte não é fácil”. Tudo isto é encenado por António Pires, com humor, carinho pelos personagens e captando a nossa atenção do primeiro ao último minuto. As gargalhadas são muitas, mas por vezes são um pouco amargas, tal como a vida.


O elenco não podia ser melhor e, como já, disse o trio de actores partilha uma química irrepreensível. Rui Melo dá-nos um Sérgio pretensioso, ao mesmo tempo irritante e divertido, com uns tiques que lhe ficam a “matar”. Como o conservador Marco, Nuno Lopes é, por vezes, insuportavelmente gozão, sempre à beira de um ataque de nervos e sempre com muita graça. Por fim, Cristovão Campos não podia ser melhor como o inseguro Ivo, sempre com um “comic timing” perfeito e criando uma grande empatia com o público. Os três são fantásticos e, no final, é com entusiasmo que os aplaudimos de pé.

Cerca de 90 minutos muito bem passados e que nos fazem esquecer este mundo caótico em que vivemos. Não percam!

Elenco: Cristovão Campos, Nuno Lopes, Rui Melo 

Equipa Criativa: Encenação: António Pires • Texto: Yasmina Reza • Tradução: Ana Sampaio • Cenário: F. Ribeiro • Banda Sonora: Carincur • Figurinos: Dino Alves • Desenho de Luz: Rui Seabra • Assistente de Encenação: Rui Lopes • Produção: Força de Produção

Fotos: Filipe Ferreira