terça-feira, 16 de setembro de 2025

ARTE de Yasmina Reza

Três amigos. Um quadro totalmente branco, com riscas brancas, de um aclamado artista (reparem que não digo pintor). Uma amizade posta em prova. Estes são os ingredientes desta divertida comédia que teve a sua estreia nos palcos parisienses em 1994, a que se seguiram produções de sucesso em Londres e na Broadway. Por cá, teve a sua estreia em 1998 no Teatro Villaret, com António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme, tendo voltado a esse palco em 2003.

27 anos depois da sua estreia entre nós, ARTE volta tão actual e divertida como na produção original (tive a sorte de a ver dessa vez) e atrevo-me até a dizer que com maior química entre os três actores. 

Num cenário minimalista (a condizer com o quadro)  desenrola-se uma história aparentemente, simples. Sérgio compra o referido quadro por uma elevada quantia; Marco nem quer acreditar que o seu amigo gastou tanto dinheiro “naquela merda”; Ivo quer agradar a ambos, enquanto lida com o stress do seu iminente casamento. Tudo isto pontuado com um texto que nos coloca algumas questões tão pertinentes hoje como quando a peça foi escrita. Será possível ser-se amigo e ter-se gostos diferentes? Até que ponto nos devemos apagar para agradar aos outros? Devemos ser totalmente honestos com os nossos amigos? O que é mais importante, a amizade ou a verdade? Afinal o que é a arte? Como dizia o grande Stephen Sondheim, “a arte não é fácil”. Tudo isto é encenado por António Pires, com humor, carinho pelos personagens e captando a nossa atenção do primeiro ao último minuto. As gargalhadas são muitas, mas por vezes são um pouco amargas, tal como a vida.


O elenco não podia ser melhor e, como já, disse o trio de actores partilha uma química irrepreensível. Rui Melo dá-nos um Sérgio pretensioso, ao mesmo tempo irritante e divertido, com uns tiques que lhe ficam a “matar”. Como o conservador Marco, Nuno Lopes é, por vezes, insuportavelmente gozão, sempre à beira de um ataque de nervos e sempre com muita graça. Por fim, Cristovão Campos não podia ser melhor como o inseguro Ivo, sempre com um “comic timing” perfeito e criando uma grande empatia com o público. Os três são fantásticos e, no final, é com entusiasmo que os aplaudimos de pé.

Cerca de 90 minutos muito bem passados e que nos fazem esquecer este mundo caótico em que vivemos. Não percam!

Elenco: Cristovão Campos, Nuno Lopes, Rui Melo 

Equipa Criativa: Encenação: António Pires • Texto: Yasmina Reza • Tradução: Ana Sampaio • Cenário: F. Ribeiro • Banda Sonora: Carincur • Figurinos: Dino Alves • Desenho de Luz: Rui Seabra • Assistente de Encenação: Rui Lopes • Produção: Força de Produção

Fotos: Filipe Ferreira






















quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O BICHINHO DO TEATRO

E perguntam vocês, com toda a razão, quem é este gajo que tem a mania de escrever sobre teatro? A resposta é muito simples, sou um apreciador da arte da representação e do escape que o teatro, tal como o cinema, me proporciona. Não tenho qualquer formação sobre a matéria, o pouco que sei aprendi a ver peças e a ler uma coisa ou outra sobre o assunto. Mas nada melhor que falar-vos sobre mim... espero não ser muito chato.

Antes de descobrir o fascinante mundo do Teatro, descobri o mundo mágico do Cinema, pelo qual me apaixonei com tenra idade. A culpa foi dos filmes em glorioso preto e branco (na altura ainda não havia televisão a cores) que eram exibidos na televisão. Era viciado nos mesmos e nada melhor que um musical onde Fred Astaire e Ginger Rogers rodopiam alegremente; a seguir tentava imitá-los dançando pela casa, umas vezes como Fred outras como Ginger (usando uma velha saia arredondada). Já nessa altura sonhava em ser actor, principalmente de musicais. Acho que foi assim que o “bichinho” pela arte da representação (teatro ou cinema) nasceu em mim.

Não me recordo exatamente quando foi a primeira vez que fui ao teatro. Pode ter sido uma das duas Revistas que vi no Parque Mayer com os meus pais, uma das quais com Guida Scarllaty numa homenagem aos musicais da Broadway, ou então numa visita de estudo ao teatro A Barraca ver Maria do Céu Guerra em É MENINO OU MENINA, a partir de Gil Vicente. 












O sonho da arte da representação foi assim crescendo dentro de mim, mas confesso que pouco fiz para a realizar e nem sei se tenho talento para tal, decididamente não tenho o espírito de sacrifício que os artistas têm. 

A primeira tentativa foi no grupo de Teatro de Carnide, devia ter para aí os meus 16/17 anos. Uma amiga fazia parte do mesmo e convenceu-me a ir até lá; nessa minha primeira visita, o encenador Bento Martins colocou-me no palco e convidou-me para fazer parte do elenco da peça que estavam a começar a ensaiar. Vim para casa excitado e com o argumento debaixo do braço, mas quando percebi que era uma peça dramática e muito política, algo que não me dizia nada, desisti sem sequer ter começado.

Mais tarde, devia ter 19 anos, vi um anúncio para um casting e decidi inscrever-me. Lá fui e juntei-me a um grupo grande de jovens aspirantes a actores no anfiteatro de um teatro que havia mais ou menos em frente do Liceu Camões. Aí comecei a ficar nervoso, pois começaram a chamar-nos ao palco, um de cada vez, para representarmos qualquer coisa para todos verem. 

Ao contrário dos outros, eu não tinha preparado nada e, quando me chamaram, a vergonha tomou conta de mim, e não consegui fazer nada; o diretor mandou-me para o lugar e disse-me que já me voltava a chamar. Aflito comecei a pensar no que podia fazer naquele palco... e eis que vejo um escadote mesmo lá ao fundo e decidi que ir pedir namoro ao mesmo. Lá voltei ao palco, dirigi-me para o escadote e quando abri a boca, em vez do que tinha pensado fazer, comecei a dizer que era o maior actor do mundo (inspirado num número musical do FUNNY GIRL) e pensei que a minha audição ficaria por ali.

Uns dias depois recebi uma chamada e tinha sido um dos escolhidos para fazer parte de três dias de provas, para depois escolherem o elenco final. Nem queria acreditar e lá fui, nervoso e excitado. O primeiro dia foi divertido; no segundo, enquanto aos outros davam personagens mais estereotipados, eu tive que fazer de um homem casado com uma mulher de uma classe social mais alta que a dele. Eu que queria fazer comédia, lá tive que fazer drama. No terceiro dia haveria provas de dança (o que não me assustou) e de canto... canto!!! Eu não tenho voz e achei que ia ser embaraçoso... Resultado? Desisti e não apareci no terceiro dia. Eles ainda me ligaram, mas não me conseguiram convencer.

Mal sabia eu que um ano mais tarde, estava eu na tropa, iria receber uma chamada de um dos actores desse grupo a convidar-me para uma nova audição. Esta teve lugar no teatro da antiga Feira Popular onde fiz a audição, apenas para esse actor e encenador. Tive que representar, dançar e cantar. Uns dias depois soube que tinha conseguido o papel, mas infelizmente por causa do serviço militar não me podia comprometer com a companhia teatral. E lá foi mais uma oportunidade.

Mas não fiquem tristes, anos mais tarde lá consegui pisar o palco. Vivia na Amadora, onde frequentei as aulas de sapateado do Ginásio Babilónia e, por dois anos, fui dançar para o palco na festa de Natal do ginásio. A primeira era a professora Elizabeth, um grupo de raparigas e eu; da segunda era a professora Marinela e eu. Confesso que adorei ambas as vezes, mas a minha experiência em palco ficou-se por aí e pelo mundo dos sonhos.










Assim, limito-me a ir ver sempre que posso e quando estas me despertam a atenção. Sou, portanto, um mero espectador que vê as coisas pelo lado emocional, raramente pelo lado intelectual, e que gosta de escrever, umas vezes melhor outras pior, sobre o assunto. Se continuo a ter o sonho de fazer teatro ou cinema? Claro que sim, acho que o vou ter para todo o sempre! 











Entretanto, espero continuar a frequentar o teatro e a escrever sobre o que vejo, principalmente das coisas de que gosto. E um conselho de amigo, vão ao teatro! A experiência é única! 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

PRÉMIOS “JORGE VAI AO TEATRO” 2025















Sempre gostei de teatro, mas durante muitos anos mantive-me afastado dos teatros portugueses, sem muita paciência para as interpretações declamadas (velha escola?) dos nossos actores ou para as peças intelectuais, feitas para “amigos”, que predominavam. Nos últimos anos tem havido, na minha humilde opinião, uma evolução positiva com interpretações mais naturais e peças mais comerciais; com o meu adorado Musical a encontrar finalmente um lugar nos nossos palcos.

Assim, nos últimos anos, reencontrei-me com o teatro que se faz por cá e nesta última temporada (Setembro 2024 a Agosto 2025) fui espectador de 29 espectáculos teatrais. Podem não ter sido muitos, mas o tempo e o dinheiro não chegam para tudo, e claro que houve muita coisa que não me despertou o interesse.  

Caso ainda não tenham percebido, não me considero alguém muito cultural. Gosto de ir ao teatro para me evadir da realidade, seja com comédias ou dramas, e vejo sempre as peças pelo lado emocional e não pelo lado intelectual. Gosto de partilhar gargalhadas e lágrimas com os personagens que estão em palco e, se merecerem, aplaudir os actores com fervor. É verdade, sempre sonhei em pisar um palco, mas isso não estava no meu destino e assim vivo essa emoção através dos actores.

A temporada 2024/2025 viu a reabertura do Teatro Variedades e, apesar das más línguas, a sala não tem tido falta nem de peças nem de público. Foi também esta temporada que tive o prazer de descobrir o trabalho da StageDoor Produções, Callback Produções, MTL e Ultra Produções, todas envolvidas com o género Musical.

Todos os anos costumo celebrar o melhor dos filmes que vi, com uma lista de prémios pessoais. Este ano, pela primeira vez, acho que faz sentido fazer o mesmo em relação às peças que vi e assim criar os meus prémios teatrais para celebrar um ano de teatro - decidi chamar-lhes Prémios “Jorge Vai ao Teatro”.

Só uma pequena explicação. Tal como faço com os filmes, em relação ao elenco e encenadores distingo separadamente a comédia e o drama. O que isto quer dizer é que um musical (o meu género de eleição) tanto pode ser um drama (QUERIDO EVAN HANSEN, RENT, etc) como uma comédia (A FAMÍLIA ADDAMS, A PEQUENA LOJA DOS HORRORES,etc).

Bem, e agora aqui ficam os meus PRÉMIOS “JORGE VAI AO TEATRO 2025”, que não são mais que o fruto da minha paixão pelo teatro. Para o ano, em princípio, haverá mais. 








OS ESPECTÁCULOS QUE VI NA TEMPORADA 2024/2025 





sábado, 23 de agosto de 2025

PERSONAS SOBRE PERSAS de Fábio Nóbrega Vaz

Esta peça teve a sua estreia em Julho deste ano (2025) e esteve em exibição no Teatro Papa-Léguas num curto número de espectáculos. Mas este mês vai ser exibida no Festival Internacional de Teatro de Setúbal, o que me parece ser uma boa razão para me debruçar um pouco sobre a mesma.

Inspirando-se livremente na obra “Os Persas” de Ésquilo, Fábio Nóbrega Vaz leva-nos até a um país (Pérsia?) a viver uma guerra longe das suas fronteiras e onde todos têm uma opinião sobre o que se passa. Supostamente, estamos perante uma situação que não é baseada em factos reais e com personagens de ficção, mas é óbvio que as semelhanças com acontecimentos contemporâneos não são coincidência.

A peça exige a nossa atenção e, ao princípio, até se pode tornar um pouco confusa com o desdobramento dos actores por diversas personagens, mas ao fim de poucos minutos capta a nossa atenção e, entre o drama e o riso, depressa nos sentimos envolvidos com as questões levantadas. As guerras e todas as suas consequências, directas ou indirectas, são um assunto que diz respeito a todos e, tal como estes personagens, de uma forma ou outra todos somos obrigados a escolher um lado.

Fábio Nóbrega Vaz e João Hungria Alves são os dois jovens e talentosos actores que se desdobram sem esforço em oito personagens. Se, fisicamente, pouco ou nada distingue as suas personagens, é a sua personalidade que as torna diferentes, demonstrando a facilidade com que estes dois actores mudam de registo.  Eles, já só por si, merecem a vossa visita, mas uma peça que nos faz pensar e que promove o debate é mais uma boa razão para conhecerem estas “Personas”.

Elenco: Fábio Nóbrega Vaz, João Hungria Alves

Equipa Criativa: Texto: Fábio Nóbrega Vaz • Criação: Fábio Nóbrega Vaz, João Hungria Alves • Desenho de Luz, Sonoplastia e Operação Técnica: Miguel Frias • Design Gráfico: Larissa Kansler • Produção: Faísca Teatro

Fotos: Bere Cruz




quarta-feira, 30 de julho de 2025

THE UNFRIEND de Steven Moffat

Se gostam de humor negro, bem construído, sabem perfeitamente que os ingleses são os especialistas do género e esta comédia prova-o muito bem. Para a sua primeira peça teatral, Steven Moffat, mais conhecido pelas séries DR. WHO e SHERLOCK, criou um colorido grupo de personagens e uma história deliciosamente negra.

Num cruzeiro, um casal inglês, Peter e Debbie, conhece uma amigável viúva americana, Elsa, com quem acabam por trocar contactos. Quando menos esperam, Elsa decide ir visitá-los, o problema é que, entretanto, eles descobrem que a simpática Elsa pode ser uma psicopata que já assassinou algumas pessoas.

A peça teve a sua estreia em Inglaterra em 2022 e chega assim fresquinha aos nossos palcos, por cortesia dos famosos The Lisbon Players, o que quer dizer que a peça é falada em inglês, mas bastante acessível.

Celia Williams, dirige com humor e mão segura, fazendo-nos rir sem esforço e manipulando-nos a favor de Elsa (papel interpretado com garra e graça por ela). O elenco diverte-se com as suas personagens e esse gozo é-nos facilmente transmitido. Como o casal inglês, Robert Taylor e Elizabeth Bochmann, estão entre o ataque de nervos e o quererem ser bons anfitriões; como os seus filhos, Dinis Lageiro e Leonor Lopes são uns irritantes teenagers (ou talvez não); Mick Greer é um vizinho chato, ou melhor, passivo-agressivo, e Michael Labram um estranho e intrusivo polícia.

Tenho pena que a peça tenha estado poucos dias em exibição e, a avaliar pela reacção do público merece uma carreira mais longa nos nossos palcos. No mundo negro em que vivemos, precisamos de mais comédias que nos façam rir e esquecer a realidade por cerca de duas horas, algo que este THE UNFRIEND faz desde o princípio ao fim. Se voltar, recomendo que não percam!

Sei que, infelizmente, os The Lisbon Players estão com o futuro ameaçado e precisam de ajuda de todos nós para continuarem a existir. Assim, se não for abuso da minha parte, solicito a vossa ajuda, assinando a petição “Lisbon Players: Uma casa para continuarmos o nosso legado”.

Elenco: Robert Taylor, Elizabeth Bochmann, Celis Williams, Dinis Lageiro, Leonor Lopes, Mick Greer, Michael Labram, Keith Harle

Equipa Criativa Texto: Steven Moffat • Encenação: Celia Williams • Cenografia: Alexandra Bochmann • Desenho de Luz: Marinel Matos • Produção: The Lisbon Players







quarta-feira, 23 de julho de 2025

AS BRUXAS DE EASTWICK de John Dempsey

Faz já muitos anos que vi este musical em Londres, na sua estreia em 2000 (era então um jovem de 36 anos) e gostei do que vi. As canções de Dana P. Rowe e John Dempsey eram no geral boas e algumas ficaram-me no ouvido (“Dirty Laundry”, “Words, Words, Words”, "Another Night At Darryl’s" “I Wish I May”). Infelizmente, o musical não foi um grande sucesso e acabou por nunca chegar à Broadway.

Confesso que nunca pensei que, 25 anos depois, iria ter a oportunidade de rever este musical, e muito menos numa produção portuguesa. Mas, meio escondida no Auditório da Santa Joana Princesa em Lisboa, como resultado final do ano escolar da Stagedoor – Escola de Teatro Musical, as Bruxas apareceram por cá no fim-de-semana passado e mereciam a vossa visita.

Quem viu o filme com Jack Nicholson, Cher, Susan Sarandon e Michelle Pfeiffer, ou leu o romance de John Updike conhece a história. Três mulheres solteiras, não muito bem-vistas pelos habitantes da localidade onde vivem, conseguem sem querer invocar o diabo que aterra em Eastwick dando-lhes tudo o que desejam, mas a um preço com o qual elas não contaram…

Esta produção, encenada por André Lourenço (que é também um dos responsáveis pela adaptação portuguesa, conjuntamente com Ana Stillwell, Raquel Pereira e Maria Mascarenhas) é muito divertida, cheia de ritmo e alegria contagiante por parte do jovem elenco. Diria que a coreografia podia ser melhor, talvez mais simples, mas gostei do caos que se instala no palco com todos a dançar. Por vezes o som da orquestra sobrepunha-se às vozes (algo que acontece também em produções ditas mais profissionais), mas nada que afectasse muito o espectáculo.

Quando não há dinheiro, usa-se a imaginação! Ninguém pode acusar André Lourenço e a sua equipa de falta de ideias. Um dos momentos altos da produção londrina era quando as três bruxas voavam em palco, e estava muito curioso de ver como iam fazer isso aqui. Acreditem que a ideia resultou muito bem. Lourenço também soube tirar bom proveito do espaço disponível e tudo flui naturalmente, não se dando pelas cerca de três horas que o musical dura.









Claro que, para que tudo funcione e a nossa atenção seja captada, é importante ter bons actores em palco e fiquei surpreendido pela qualidade do elenco; é bom saber que temos tanta gente boa por cá. Por razões óbvias, uns destacam-se mais que outros. Luís Santos Mascarenhas é um diabo sexy, gozão e mimado, cantando com voz forte e mexendo-se muito bem em palco. Como a “cabra” da Felicia, Ana Stilwell é antipática, chata e fácil de se odiar, o que quer dizer que faz muito bem o seu papel. Por fim, temos as três bruxas, Sara Venâncio, Catarina Dias e Margarida Pardal; três belíssimas jovens actrizes com excelentes vozes, que facilmente conquistam a nossa simpatia e estão brilhantes nos seus papéis. Não devia dizer isto, mas Margarida Pardal como Sukie foi a minha preferida, com um brilho interior que ilumina o palco sempre que está em cena.















Espero que esta produção não fique por aqui e que algum produtor de teatro português (atenção Força de Produção) pegue na mesma e lhe dê nova vida. Sei que o André Lourenço é capaz de levar este musical para o nível seguinte e imagino o que ele poderá fazer com mais meios. Parabéns à Stagedoor e a todos os envolvidos, continuem com o bom trabalho e eu prometo que, se me sair o Euromilhões, viro produtor de musicais.

Elenco: Luís Santos Mascarenhas, Margarida Pardal, Sara Venâncio, Catarina Dias, Ana Stilwell, Rafael Pina, Kelly Oliveira, Miguel Pina, Samanta Sousa, Tomás Mourato, Beatriz Vasconcelos, Mariana Graça, Mateus Borges, Anya Santos, Ana Gomes, Elena Prostova, Bia Lisboa, Vicente Pé-Curto, Sofia Chaves, Constança Barreira, Inês Garcia, Cláudia Rosa, Leonor Lopes, Kaya, Maria Gama











Equipa Criativa - Música: Dana P. Rowe • Livro e Letras: John Dempsey • Tradução e Adaptação Portuguesa: Ana Stilwell, André Lourenço, Raquel Pereira, Maria Mascarenhas • Encenação: André Lourenço • Coreografia: Catarina Alves • Direção Musical: Carlos Meireles • Produção: Stagedoor

Fotos: Luís Chaves


terça-feira, 22 de julho de 2025

REPARATIONS BABY! de Marco Mendonça

Aviso: este comentário poderá ser politicamente incorrecto.

É a estreia de um novo concurso televisivo na televisão portuguesa. O que o distingue de todos os outros é que, numa tentativa de ser um programa mais inclusivo, os concorrentes são todos de etnia negra. A ajudar à festa a apresentadora é de ascendência asiática. Que comece o concurso com as suas perguntas e os seus prémios.

Esta é a premissa desta peça da autoria de Marco Mendonça. Sempre acreditei que a rir é a melhor forma de falar de assuntos sérios e é isso que acontece aqui. Sim, por vezes sentimo-nos incomodados com o humor racista, mas mesmo assim rimos e não acredito que isso faça de nós piores pessoas. O assunto é sério e infelizmente cada vez mais actual. Na verdade, independentemente da nossa etnia, somos todos um pouco racistas.

A acção flui com ritmo e humor por cerca de duas horas e, se bem que não havia necessidade de ser tão longa, nunca é chata. Sem querer revelar muito, acho que a peça teria muito mais impacto se terminasse quase logo a seguir ao último jogo, quando as coisas se tornam mais sérias e mesmo negras (aqui o termo não tem conotação étnica). Esse jogo final é forte, real e um murro no estômago, mas o que vem a seguir é um bocado didático, um pouco moralista. Compreendo a ideia do autor/encenador, mas por mim terminava com o resultado desse jogo… mentira, acho que logo a seguir a Diva, com a sua santa ignorância, devia fazer uma entrada triunfal. Mas isto é só a minha opinião e gostei do que vi.

O elenco é todo ele muito bom. Já tinha tido o privilégio de ver Ana Tang, Stela, June João e Bernardo de Lacerda no recente A FARSA DE INÊS PEREIRA; mais uma vez estão todos muito bem e é bom perceber a cumplicidade que partilham em palco. Por razões óbvias, Tang destaca-se como a apresentadora sempre sorridente (as Cristinas Ferreiras deste mundo que se ponham a pau), e Stela como a divertida Diva. Como os concorrentes, Vera Cruz (que tive a sorte de ver em A MÉDICA), Danilo da Matta e Márcia Mendonça dão, com talento, voz à sua minoria étnica, num misto de aceitação/revolta perante os acontecimentos a que são submetidos, incluindo o próprio teor das perguntas do concurso.

Quando a peça terminou, fui jantar com o grupo de amigos com os quais assisti à peça. Foi curioso como as opiniões se dividiram e, acima de tudo, de como a peça nos fez debater assuntos de que não costumamos falar. Só por isso já vale a pena assistirem à peça, mas há mais razões para o fazerem: as gargalhadas são boas, o elenco merece o vosso aplauso e duvido que fiquem indiferentes ao que se passa em palco.

Elenco: Ana Tang, Bernardo de Lacerda, Danilo a Matta, June João, Márcia Mendonça, Stela, Vera Cruz

Equipa Criativa - Texto: Marco Mendonça • Encenação: Marco Mendonça • Cenografia: Pedro Azevedo • Figurinos: Aldina Jesus, Pedro Azevedo • Desenho de Luz: Teresa Antunes • Desenho de Som, Sonoplastia e Música Original: Mestre André • Video: Heverton Harieno • Apoio à Criação: Bruno Huca • Cláudio Castro, David Esteves, José Neves, Pedro Gil • Produção: Teatro Nacional D. Maria II

Fotos: Filipe Ferreira



terça-feira, 15 de abril de 2025

A PÉROLA de John Steinbeck

Numa pequena e pobre comunidade piscatória, um pescador (Kino) encontra uma grande pérola e a sua existência vai mudar a sua vida, e a dos que o rodeiam, de forma negativa.

Estamos perante uma tragédia sobre a ganância dos homens e como uma simples pérola pode trazer ao de cima o pior nas pessoas. Apesar de ter sido escrita em 1947 por John Steinbeck, a verdade é que o seu assunto é tão actual como naquela época.

Não se zanguem comigo, mas nunca fui grande apreciador da arte da declamação, preferindo sempre uma abordagem mais natural por parte dos actores. Aqui há um misto de ambos, mas curiosamente, tendo em conta toda a produção, a coisa até que funciona bem. Nesse aspecto gostei muito do trio de mulheres (Carla Chambel, Ana Lúcia Palminha e Rita Fernandes) que comentam a acção na tradição do coro de teatro grego.

O que me conquistou foi a encenação de Jorge Gomes Ribeiro. Com uma forte e simples componente visual (cenário e guarda-roupa), bem como um excelente uso do som, envolve os actores numa rede de que é impossível fugirem.

Infelizmente, esta peça não vai estar muito mais tempo em exibição, pelo que aconselho que se despachem a ir ao Teatro da Comuna onde esta companhia talentosa espera por vocês.

Elenco: Ana Lúcia Palminha, Carla Chambel, Paula Neves, Pedro Martinho, Pedro Pernas, Rita Fernandes, Rui Luís Brás, Tiago Costa 

Equipa Criativa: Encenação e Dramaturgia: Jorge Gomes Ribeiro • Vídeo: Nuno Barroca • Desenho de Luz: José Carlos Pontes • Sonoplastia: Adriano Filipe • Apoio ao Movimento: Joana Furtado • Apoio à Dramaturgia: Sofia Santana • Cenografia: Marta Fernandes da Silva e Jorge Gomes Ribeiro • Figurinos: Rita Fernandes e Jorge Gomes Ribeiro • Mestra de Guarda-Roupa: Atelier Alda Cabrita • Design Gráfico: João Afonso • Site: Magaworks - Margarida Fernandes • Comunicação: Rita Fernandes • Produção: Manuela Morais / Companhia da Esquina • Assistente de Produção: Beatriz Nabais

Fotos: Tânia Fernandes