Novo mês, novo tema no Teatro Rápido. Desta vez o tema escolhido não podia ser mais actual – (RE) PÚBLICA. De acordo com o dicionário, república quer dizer, entre outras coisas, “regime em que se tem em vista o interesse geral de todos os cidadãos e em que o Chefe de Estado é eleito”. Seria bom que vivêssemos numa república, mas cada vez tenho mais dúvidas que assim seja. Mas nas quatro salas do TR ainda podemos acreditar que alguma coisa pode mudar. Quatro situações distintas aguardam-nos: um discurso politico, as trincheiras de uma batalha, uma boda de casamento e um “palco” em branco.
Se gostavam de saber qual será a sensação de se estar no meio da guerra, numa trincheira, com O ÚLTIMO BRINDE podem sentir o cheiro e o calor de uma. A Sala 1 transformou-se numa realista trincheira, onde dois soldados tentam sobreviver mais um dia, muito contribuindo para isso o seu bom humor e os seus sonhos. Hugo Costa Ramos e Philippe Leroux são dois convincentes soldados que partilham entre si uma química quase homo-erótica, levando-nos a acreditar nos seus personagens e na situação. O texto de Eric L. Silva parece escrito por alguém que viveu esta situação, de tão naturais que são os diálogos.
Na Sala 2 somos recebidos por uma jovem com uma t-shirt a dizer “a actriz”; outros cartazes indicam o palco, o público e o camarim. Esta actriz tem muito para nos dizer e fá-lo de uma forma tão natural, que mais parece que somos velhos amigos a ter uma conversa de café. O texto desta micro-peça, AS COISAS PELOS NOMES, de Sara Barros Leitão é brilhante, despretensioso, comovente, não descura o humor e toca-nos a todos! Este monólogo é feito por duas actrizes que dividem entre si o espectáculo em dias diferentes. Felizmente já tive a sorte de ver ambas e a experiência é completamente diferente (o texto também muda um bocadinho), mas sempre enriquecedora. Primeiro vi-a com a muito jovem Sofia Santos Silva, que se revelou uma actriz comovente, capaz de nos embalar nas suas palavras. Da segunda vez vi-a com Diana Nicolau, uma talentosa actriz, muito assertiva nas suas palavras. Duas interpretações diferentes, ambas excelentes e que fazem prever um futuro auspicioso para ambas. A melhor peça deste mês!
Saltando para a Sala 4 (já irei à Sala 3) deparamo-nos com um novo monólogo, também partilhado por duas actrizes em dias diferentes. Chama-se EU SOU O MEU PAÍS e começa com um discurso politico, presumidamente feito durante uma campanha eleitoral, que depois se repete de forma mais intimista. Ambas as actrizes, Mónica Lourenço e Rita de Brito Mendes, interpretam o texto sem grandes diferenças entre si e, apesar da honestidade das suas interpretações, senti que falta qualquer coisa. Acho que devia haver uma diferença mais marcada entre o discurso politico e o discurso intimista; o tom devia ser menos monocórdico. Gostei muito da forma, quase intimidante, como Mónica Lourenço nos olhou directamente nos olhos, sem desviar o olhar e gostei muito da sentida intimidade de Rita de Brito Martins.
E agora estou com um dilema moral. A peça A MÃE DA NOIVA envolve pessoas de quem sou amigo e assisti de perto à sua criação, um processo que adorei ver na primeira pessoa. Mas tudo isto põe-me numa situação difícil, pois por muito sincero que seja, a minha opinião poderá ser considerada mais subjectiva do que é normal. Talvez fosse mais fácil se não tivesse gostado desta micro-peça, mas na realidade gostei e diverti-me imenso a ver a talentosa Rosa Villa a dar vida a esta mulher um pouco amargurada, que sente que o seu momento chegou finalmente. O realista e humorístico texto de Ana Saragoça, com o qual acredito que muitas mulheres se vão identificar, prestava-se a várias interpretações. Podia transformar-se num momento dramático e incómodo ou numa coisa mais ligeira, que foi a opção escolhida pelo encenador Jorge E. Quando entramos na Sala 3, é impossível não repararmos no fabuloso candelabro ou no bolo feito de arame, tudo da autoria de Pedro Mamede, mas depressa esquecemos isso tudo, pois no centro do “palco” está Rosa Villa e ela capta toda a nossa atenção. Uma cerimónia a que todos vão gostar certamente de assistir e, quem sabe, talvez dê coragem a algumas mulheres de se afirmarem.
Uma visita este mês ao Teatro Rápido é garantia de bons espectáculos e de poder assistir a um grupo de excelentes actores, para quem a arte de representação não parece ter segredos. Acreditem que estas micro-peças são um bom vício mensal e que espero ansiosamente pelo próximo mês.
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