Outubro, no Teatro Rápido, é sobre EXCLUÍDOS e de certa forma foi assim que me senti ao assistir às quatro micro-peças deste mês. Ou seja, não me senti emocionalmente envolvido com nenhuma delas, senti-me sempre um mero espectador. Depois da excelente programação de Setembro, o TR volta, como já tinha acontecido em Agosto, a descer na qualidade e o interesse dos projectos. Confesso que já começo a ficar um bocado farto de ver peças sobre a crise, se pelo menos tentassem outro tipo de abordagens ao tema... Eu sei que o teatro não tem que ser só divertimento, mas o que é demais chateia!
BURROCRACIA é o título da peça em exibição na Sala 1. Fala-nos da história de uma idosa que é dada como morta pela Segurança Social e da sua luta para provar que está viva. A ideia é interessante e os actores Isabel Mões e João Ferrador são convincentes nos seus desempenhos, mas acho que as entrevistas de rua prejudicam a continuidade da peça e nada acrescentam à história. Já todos sabemos como a Segurança Social e outros serviços funcionam mal, preferia que tivessem investido mais na história da idosa. Gostei da frase final, mas não a vou revelar aqui.
Uma grande quantidade de livros encontram-se espalhados pelo chão da Sala 2, onde Gonçalo Brandão e Soraia Tavares têm como função arrumar os mesmos por uma certa ordem; ele está mais interessado em ler os livros e ela em despachar o trabalho. É esta a premissa de O ARQUIVO, onde os dois actores “lutam” com um texto desinteressante, a tentar ser intelectual, e onde a nossa atenção é desviada para as capas dos diversos livros (“será que está aqui algum dos meus preferidos?”). O facto de Gonçalo Brandão ser muito pouco natural na sua interpretação também não ajudou; quanto a Soraia Tavares, precisa de viver mais a sua personagem. Uma questão, porque razão é que ele está descalço? Será que isso tem algum significado que me escapou? Será para assim se sentir mais confortável para ler? Parece-me que livros continuam a não ser uma boa aposta para o TR.
Um rapaz vem para a cidade à procura de uma vida melhor; aluga um quarto e passa a maior parte do seu tempo sozinho, num MONÓLOGO SEM TÍTULO na Sala 3. Tal como acontece com O ARQUIVO, o cenário desta peça distraiu-me um bocado. Da autoria de Ângela dos Santos Rocha, o cenário é genial e a encenação de Mickael Gaspar tira o melhor proveito dele; é na verdade uma das mais bem conseguidas cenografias que vi até hoje no TR. Quanto à história, é simples e por vezes comovente, mas uma história violenta envolvendo uma mulher parece fora de contexto e era preferível terem-se ficado só pela solidão e tristeza da vida daquele rapaz. O jovem Marc Xavier entrega-se totalmente ao personagem, conseguindo a nossa empatia, ao mesmo tempo que habilmente lida com as dificuldades físicas do cenário. Uma aposta interessante, mas não tão bem conseguida como eu gostaria.
A expressão MORRER NA PRAIA serve de título à peça em exibição na Sala 4. Uma mulher consulta uma psiquiatra na esperança que esta a ajude a perceber se está louca ou não, pois perdeu o marido na praia. As duas vão dialogando entre si, tentando assim chegar à verdade da situação. A ideia é engraçada e tem bons momentos de humor (adorei quando a psiquiatra de descontrola e ri à gargalhada), mas o final decepcionou-me. Por outro lado, as actrizes Inês Veiga de Macedo e Ana Lopes Gomes parecem divertir-se com as suas personagens e essa boa disposição é-nos transmitida. É a peça mais bem-disposta do mês.
Por muito que me custe, pois sou um verdadeiro fã do TR, tenho que confessar que a programação deste mês soube-me a pouco. A verdade é que ainda a achei mais fraca que a de Agosto. Mais uma vez chamo a atenção aos responsáveis pela escolha das peças; por favor tentem diversificar mais e tenham cautela. Se este mês tivesse sido a minha primeira vez no TR, duvido que ficasse com vontade de lá voltar. Claro que gostos não se discutem e de certeza que há quem adore as peças deste mês, mas eu fiquei decepcionado. Em jeito de conclusão, diverti-me com as meninas do MORRER NA PRAIA e fiquei fascinado com o cenário de MONÓLOGO SEM TÍTULO. Para o mês há mais e, espero, melhor.
Fotos © Mário Pires - www.ruadebaixo.com
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