sábado, 26 de outubro de 2013

PAREDES MEIAS

Numa sala de condomínios, ou assim me pareceu, um grupo de pessoas reúne-se periodicamente para quebrarem a sua solidão e discutirem assuntos variados. O grupo foi criado por Paulo Jorge, um homem tímido que perdeu a mulher, e os membros mais activos são Kika, uma “benzoca” de bom coração, Edgar, um intelectual amargo, e Sónia, uma professora ressabiada. Tal como no jogo do “quanto queres” representado no cartaz de autoria de Luís Covas, nunca se sabe o que cada pessoa pode esconder.

Ontem tive o prazer de conhecer este interessante quarteto de personagens e só tive pena que o nosso encontro não tivesse durado mais tempo.  Na sua companhia tive uma divertida e comovente noite de teatro, onde se falaram de coisas que dizem respeito a todos nós, da solidão que se vive nos tempos actuais, bem como da crise, mas tudo sem moralismos irritantes. Achei o texto, mesmo as partes obrigatoriamente improvisadas, bem construído e extremamente envolvente.

A encenação informal e pouco convencional aproxima-nos dos personagens e, após uns breves minutos, sentimos que fazemos parte daquele grupo e que todos somos bem vindos. Pessoalmente, não me importava de ter ficado toda a noite a falar com eles e fiquei com vontade de voltar a assistir a uma das suas reuniões. Fiquei com a sensação que ainda havia muito para descobrir sobre aqueles personagens e gostava de os conhecer melhor.

A dar vida aos personagens temos um elenco notável e de uma grande naturalidade. Como Paul Jorge, João Ascenso é brilhante como o homem tímido cuja alma e olhar se ilumina sempre que fala da sua esposa. Cláudia Semedo é deliciosa como a fútil e bem intencionada Kika, ao mesmo tempo revelando uma sensibilidade escondida. É quase impossível desviar o olhar da sempre muito expressiva Anaísa Raquel como Sónia. A Afonso Lagarto, como Edgar, cabe a tarefa de dar vida a um personagem desagradável e ele fá-lo muito, mesmo muito bem.


O espectáculo vai só estar uns dias em exibição no Teatro Municipal Amélia Rey Colaço, em Algés, mas aconselho todos a não perder este excelente momento de teatro. O elenco, também responsável pelo texto e encenação, merecem a vossa visita e o vosso aplauso. São momentos destes que nos fazem acreditar no teatro em Portugal. Parabéns a todos!

Fotos © Inês Torres da Silva


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