Estamos em Dezembro e é EM FAMÍLIA que o Teatro Rápido encerra o seu ano teatral e posso afirmar que, apesar de nem tudo ser do meu agrado pessoal, o fazem com chave de ouro, dando-nos duas das melhores micro-peças que por lá passaram este ano.
Na Sala 1, uma mesa de tamanho familiar aguarda pelo tradicional JANTAR DE FAMÍLIA, a responsável pelo jantar vai servindo vinho e no decorrer da refeição alguns segredos serão revelados. Com uma interpretação brilhante da versátil Nádia Santos, é com prazer que seguimos os acontecimentos deste jantar encenado com humor e mestria por José Carlos Garcia. O texto da autoria de Nádia Santos e José Carlos Garcia está bem escrito e dá-nos uma colorida galeria de personagens. Esta divertida peça é uma das melhores que passou este ano pelo Teatro Rápido e Nádia Santos merece uma ovação de pé!
15 MINUTOS é quanto duram as micro-peças do TR, mas aqui é também o tempo de vida de uma mulher que se encontra numa cama de hospital, enquanto as suas duas filhas, separadas há alguns anos, tentam criar uma nova ligação entre si. A premissa é interessante, mas o texto em que assenta é fraco, bem como a encenação. A situação retratada é dramática, mas as actrizes Catarina Mago e Sofia Ramos não conseguem transmitir esse dramatismo; infelizmente, chorar não é o suficiente para dar credibilidade a uma interpretação. É uma pena que assim seja, pois este 15 minutos que passamos na Sala 2 podiam ser muito melhores. Outra coisa, provavelmente parti do princípio errado que cada uma das filhas se encontrava de um dos lados da “cama”, mas se assim é não faz sentido a forma como se movem na sala.
O som de fundo na Sala 3 é de festa, com cânticos de Natal, crianças a brincar e adultos a falar, mas neste VÍCIOS PARA UMA FAMÍLIA FELIZ nem toda a gente está a passar um bom bocado. Escondida num canto de um quarto, onde é descoberta por um primo quase desconhecido, uma mulher, agarrada a uma garrafa de vodka, põe em causa os valores da família e a hipocrisia da festa de Natal. Todos nós já sentimos a vontade de nos isolarmos no meio de uma festa de família e esta peça de Tiago R. Santos, que custa um bocadinho a arrancar, retrata bem essa situação, com humor e atmosfera. Helena Canhoto é excelente e Eurico Lopes dá-lhe a réplica certa. Só tenho pena que o final, de certa forma previsível, não seja mais eficaz.
Miguel Simões e Suzana Branco são os responsáveis por É ESTA A ALIANÇA QUE QUERO! e é com talento e graça, muita graça, que nos recebem na Sala 4, onde nos explicam tudo sobre alianças de casamento e tentam encontrar a aliança certa para cada situação. O texto é muito divertido, original e acredito que não deve ter sido nada fácil decorá-lo, mas nas mãos de Simões e Branco parece a coisa mais natural deste mundo e formam uma dupla deliciosa que conquista instantaneamente a nossa simpatia. São ambos muito expressivos e a forma por vezes engraçada com que nos olham torna-se por vezes intimidante, o que torna a situação ainda mais divertida. Também adorei o guarda-roupa. Sem dúvida, mais um grande momento de teatro no Teatro Rápido.
Depois de dois meses fraquitos, é bom poder dizer que a qualidade da programação do Teatro Rápido voltou a subir no último mês deste ano e assim espero que continue em 2014. Mas até lá não deixem de dar um salto ao TR e, pelo menos, não percam duas das melhores peças que por lá passaram este ano, JANTAR DE FAMÍLIA e É ESTA A ALIANÇA QUE EU QUERO, ambas muito divertidas e com excelentes interpretações.
Em breve revelarei o meu top 10 entre as 48 micro-peças que vi este ano no TR e, tal como no ano passado, atribuirei os “Prémios Tomé”.
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