terça-feira, 16 de setembro de 2025

ARTE de Yasmina Reza

Três amigos. Um quadro totalmente branco, com riscas brancas, de um aclamado artista (reparem que não digo pintor). Uma amizade posta em prova. Estes são os ingredientes desta divertida comédia que teve a sua estreia nos palcos parisienses em 1994, a que se seguiram produções de sucesso em Londres e na Broadway. Por cá, teve a sua estreia em 1998 no Teatro Villaret, com António Feio, José Pedro Gomes e Miguel Guilherme, tendo voltado a esse palco em 2003.

27 anos depois da sua estreia entre nós, ARTE volta tão actual e divertida como na produção original (tive a sorte de a ver dessa vez) e atrevo-me até a dizer que com maior química entre os três actores. 

Num cenário minimalista (a condizer com o quadro)  desenrola-se uma história aparentemente, simples. Sérgio compra o referido quadro por uma elevada quantia; Marco nem quer acreditar que o seu amigo gastou tanto dinheiro “naquela merda”; Ivo quer agradar a ambos, enquanto lida com o stress do seu iminente casamento. Tudo isto pontuado com um texto que nos coloca algumas questões tão pertinentes hoje como quando a peça foi escrita. Será possível ser-se amigo e ter-se gostos diferentes? Até que ponto nos devemos apagar para agradar aos outros? Devemos ser totalmente honestos com os nossos amigos? O que é mais importante, a amizade ou a verdade? Afinal o que é a arte? Como dizia o grande Stephen Sondheim, “a arte não é fácil”. Tudo isto é encenado por António Pires, com humor, carinho pelos personagens e captando a nossa atenção do primeiro ao último minuto. As gargalhadas são muitas, mas por vezes são um pouco amargas, tal como a vida.


O elenco não podia ser melhor e, como já, disse o trio de actores partilha uma química irrepreensível. Rui Melo dá-nos um Sérgio pretensioso, ao mesmo tempo irritante e divertido, com uns tiques que lhe ficam a “matar”. Como o conservador Marco, Nuno Lopes é, por vezes, insuportavelmente gozão, sempre à beira de um ataque de nervos e sempre com muita graça. Por fim, Cristovão Campos não podia ser melhor como o inseguro Ivo, sempre com um “comic timing” perfeito e criando uma grande empatia com o público. Os três são fantásticos e, no final, é com entusiasmo que os aplaudimos de pé.

Cerca de 90 minutos muito bem passados e que nos fazem esquecer este mundo caótico em que vivemos. Não percam!

Elenco: Cristovão Campos, Nuno Lopes, Rui Melo 

Equipa Criativa: Encenação: António Pires • Texto: Yasmina Reza • Tradução: Ana Sampaio • Cenário: F. Ribeiro • Banda Sonora: Carincur • Figurinos: Dino Alves • Desenho de Luz: Rui Seabra • Assistente de Encenação: Rui Lopes • Produção: Força de Produção

Fotos: Filipe Ferreira






















Sem comentários:

Enviar um comentário