Era uma vez, num reino nada distante, um teatro onde as peças eram rápidas e o talento abundava. Todos os meses um homem barbudo visitava esse teatro, tendo-se tornado um espectador assíduo. Alguns diziam que ele era um viciado, outros diziam que ele se identificava com os actores e por minutos gostava de respirar a adrenalina mágica do Teatro. Este homem, quando soube qual era o tema do mês de Novembro ficou muito feliz, pois desde miúdo que era um apaixonado por contos de fadas e tudo o que tem a ver com o fantástico e o sobrenatural. Imaginem a sua decepção quando se apercebeu que as micro-peças apresentadas, com excepção de uma, fugiam ao mundo da fantasia. Mesmo assim ele gostou do que viu e, como tinha o hábito de registar as suas opiniões, voltou a fazê-lo e, com a sua autorização, aqui as transcrevo.
Era uma vez uma diva do show-business chamada SASHA GOLD. Tinha por hábito receber no seu camarim um dos seus grandes fãs e assim sentir-se mais idolatrada. Mas as aparências iludem e o fã desta noite bem pode ser o seu último. Quando se entra na Sala 1 é como se entrássemos no esplendoroso camarim de uma grande estrela; um espelho domina o cenário, mas tem que se ter atenção aos pormenores deliciosos que adornam o espaço, sem dúvida um excelente trabalho de Eurico Lopes. Junto ao espelho espera-nos uma fabulosa “bigger than life” Mané Ribeiro, que encarna uma drag-queen na perfeição e que enverga um vestido fabuloso. O seu convidado é Paulo Nery, que tem uma presença forte mas que não rouba o protagonismo a Mané. Na encenação e texto de Susana Vitorino, sentem-se as influências de “O Fantasma da Ópera”, “O Capuchinho Vermelho” e, quando virem a peça vão perceber porquê, o “All About Eve”. São 15 minutos bem passados, divertidos, coloridos e um pouco macabros (estejam atentos ao cenário); pessoalmente gostaria que o final fosse um pouco mais forte.
Era uma vez dois amigos de infância que chegam à triste conclusão que os seus sonhos de criança não se realizaram e que, presentemente, não têm nada, ou quase nada, em que acreditar. Apesar de ter começado a escrever um livro chamada A GUERRA DOS CISNES, ele acha que a imaginação foi substituída por coisas. Das três peças escritas e encenadas por Vicente Alves do Ó para este espaço teatral, esta é a melhor. Gostei do ar natural com que os actores Márcia Cardoso e Ricardo Barbosa encarnam os seus personagens. O texto tem coisas muito boas, um humor bem conseguido e adorei as referências cinéfilas. Não sou grande fã de moralismos e, como tal, dispensava o bem intencionado final; mas isso é apenas um minuto de 15 que passam a correr.
Era uma vez JOANA DARK, uma mulher dividida entre ser a heroína capaz de salvar o seu país e a simples dona de casa que deseja ter uma vida normal. Chamem-me burro se quiserem, mas tenho que confessar que não percebi muito bem o que os autores pretendem com esta performance. A culpa não é da interpretação das expressivas Anna Carvalho e Linda Valadas, mas sim do pobre texto. Acho que percebi a dualidade da personagem, mas qual é o interesse de ficar a saber os nomes científicos de alguns legumes? Será que isso é suposto ser cómico? O que eu mais gostei destes longos 15 minutos, foi o facto de haver algo ligeiramente perturbador no ambiente, infelizmente isso não é explorado e o resultado deixou-me vazio.
ONCE UPON A TIME uma jovem infeliz no amor sente-se desesperada e sem vontade de viver, mas uma estranha mulher (fada madrinha ou bruxa má?) insiste em transformá-la numa bonita princesa dos contos de fadas. Quando li o breve resumo sobre esta peça no blogue do Teatro Rápido, temi o pior; achei que se tratava de uma peça pretensiosa e chata. Imaginem a minha surpresa quando fui confrontado com uma ideia genial, executada na perfeição por Sofia Soares Ribeiro e Joana Paes de Freitas e com um humor irresistível. Uma das coisas mais raras nos tempos que correm é conseguir ser-se positivamente surpreendido e esta pequena peça consegue-o sem esforço e com muita graça. Sofia, com o seu ar desconsolado, transforma-se perante nós numa princesa Disney e a sempre insistente Joana não deixa escapar nada. Um grande momento de teatro, simples e perfeito! A melhor peça deste mês!
Espero não vos ter maçado com as longas e pessoalíssimas opiniões do homem barbudo, mas sei de fonte segura que no próximo mês ele voltará ao TR, pois ele sabe que aí há sempre finais felizes. Podem não ser para sempre, mas são bons enquanto duram.
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