Mais um mês, mais uma visita ao Teatro Rápido, desta vez subordinada ao tema QUEM FEIO AMA... ou, como diz o velho provérbio, “quem feio ama bonito lhe parece”.
E na Sala 1 é sobre o amor que nos fala EGO - DIVERGÊNCIA DA 3ª PESSOA. Um jovem casal, junto à dois anos, começa a sentir o desgaste da sua relação. Um dos adereços desta peça são duas máscaras inexpressivas e seria de esperar que fosse tirado algum proveito do seu uso, mas fica-se pela ideia. Outro adereço é um baloiço e não percebi o que estava ali a fazer; quanto às cordas imagino que devem simbolizar as amarras de uma relação. O texto não é desinteressante, mas os actores que lhe dão vida, Sara Rio Frio e Fábio Ferreira, não conseguem transmitir as emoções que supostamente estão a sentir; talvez sejam demasiado jovens, mas não senti nenhuma química entre os dois. Também não gostei dos flashes iniciais, achei que não estavam lá a fazer nada. Em determinada altura a peça transforma-se praticamente num monólogo da rapariga e o rapaz limita-se a dar apoio físico. Houve uma coisa que me distraiu, porque razão é que ele tem umas cuecas vestidas por baixo das outras?
De certa forma, o amor continua com A MULHER DO DITADOR, em exibição na Sala 2. Duas mulheres, a esposa e a amante do dito ditador, partilham uma cela; a esposa acabou de ser torturada e a amante espera a sua vez. O melhor desta peça é a frase final, com toda a crueldade que ela representa. O pior é o desequilíbrio entre as duas actrizes. Como a esposa, Lia Goulart dá-nos uma interpretação exagerada, aquilo a que os ingleses chamam de “over-acting”. Como a amante, Flávia Carvalho dá-nos exactamente o contrário, ou seja uma interpretação demasiado apagada ou, se preferirem, “under-acting”. É uma pena, pois acho que se estas duas actrizes conseguissem encontrar o equilíbrio certo entre as duas, poderíamos estar perante uma peça fortemente dramática.
Quando entramos na Sala 3 somos avisados por um homem que estamos prestes a conhecer A MULHER MAIS FEIA DO MUNDO, que não a devemos temer, mas mesmo assim convém manter uma certa distância, pois nunca se sabe do que é que ela será capaz. Em termos de encenação, esta peça é das coisas mais engraçadas que tenho visto no Teatro Rápido; com alguns momentos muito bem conseguidos (as coisas que a mulher nos “oferece”) e com um fabuloso pano vermelho que esconde as feições da mulher. Em termos de texto não há muito aqui, mas ainda assim tem uma abordagem original sobre a crise actual; essa falta de texto leva também a uma divertida, mas demasiado longa, sequência cantada. Pessoalmente, acho que o mistério da face da mulher devia ser deixado até ao final. Quanto aos actores, tanto João Manso como Anabela Caetano vão bem nos seus papéis.
Por fim, na Sala 4, temos MOLDES DE IMAGEM, onde uma jovem e promissora empregada (Mariana Mourado) é chamada pela sua directora (Elizabeth Bochman) a fim de, por motivos de imagem, esta a convidar a demitir-se. O texto de António Carlos Andrade é demasiado real e levanta algumas questões. No lugar daquela jovem empregada o que é que faríamos? A imagem é assim tão importante? O que é mais importante? Ambas actrizes habitam as suas personagens com talento, fazendo-nos acreditar nelas e sentir as suas emoções. A eficaz encenação, também de António Carlos Andrade, revela-nos com humor uma realidade incómoda. Gostei do final libertador e, ao mesmo tempo, deprimente. Sem dúvida, a melhor peça deste mês de Fevereiro.
Para terminar, aconselho sem reservas MOLDES DE IMAGEM e não deixem de visitar A MULHER MAIS FEIA DO MUNDO. Quanto às duas outras micro-peças, estou certo que A MULHER DO DITADOR pode melhorar e talvez os jovens de EGO amadureçam nos seus papéis.
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