A História: Luís, um
jovem recentemente licenciado, chega à Avenida Q à procura de um apartamento e
de um sonho. Aí, conhece Marta Monstra e os dois apaixonam-se, mas uma
ordinária de nome Paula Porca ameaça a sua relação. Entretanto, dois velhos
amigos que vivem juntos têm problemas, pois quando Félix, um gay no armário,
descobre que o seu amigo Joca sabe o seu segredo põe-o na rua. Nesta avenida
vivem também a turca Maria, que é noiva de um desempregado que sonha em ser um "stand-up" cómico, o misterioso
Trekkie Monstro e o outrora famoso Pequeno Saúl.
O Elenco: Antes de mais, parabéns a todo o
elenco pelo excelente trabalho e por me terem proporcionado uma excelente noite
de teatro e alegria. Acreditem, todos me surpreenderam pela positiva, revelando
um perfeito “comic timing” e excelentes dotes vocais. São todos tão bons que
parece injusto destacar alguns, por isso vou falar um bocadinho de todos. Nos
papéis principais, Ana Cloe e Samuel Alves são excelentes e partilham uma
química que anima os seus bonecos de forma intensa e real. Como Paula Porca,
Inês Aires Pereira é deliciosamente ordinária e quando está em palco é difícil
não olhar para ela, uma espécie de uma sexy Jessica Rabbit, mas muito
badalhoca; adorei a forma como o cabelo de Inês e de Paula combinam tão bem.
Manuel Moreira é muito divertido como Félix e, juntamente com Inês, dá vida aos
terríveis ursinhos. Rodrigo Saraiva empresta o seu enorme talento e a sua voz
grossa e rouca ao Trekkie Monstro e o seu lado doce a Joca. Gabriela Barros
manda a casa abaixo com a sua belíssima voz operática no papel de Maria. Como o
Pequeno, mas agora crescido, Saúl, Rui Maria Pêgo faz-nos acreditar que a sua
vida “é uma merda” e como o noivo de Maria, Diogo Valsassina consegue convencer-nos
que não usa cuecas e que não nasceu para “stand-up comedy”. A verdade é que só
tenho coisas boas a dizer sobre todos, por isso vão é vê-los, pois eles merecem
a vossa atenção e o vosso carinho.
A Peça: Este musical estreou Off-Broadway
em Março de 2003 e em Julho do mesmo ano foi transferido para um teatro da
Broadway com grande sucesso. Quando chegou a hora dos prémios Tony (os Óscares
da Broadway), ganhou Melhor Musical, Melhor Argumento e Melhor Música. Tudo
prémios que foram mais que merecidos.
Tive a
sorte de ver a produção da Broadway em 2004 e adorei. Quando li que ia estrear
uma produção portuguesa deste musical, confesso que fiquei apreensivo e foi com
algumas reservas que me dirigi ao Teatro da Trindade no passado sábado, mas
também com algum excitamento e muita curiosidade.
Mas que
bela surpresa eu tive! Não só adorei a produção, como achei que está ao nível
da que vi na Broadway; atrevo-me até a dizer que gostei mais desta. A adaptação
da autoria de Henrique Dias e Rui Melo (que também dirige a peça) é brilhante,
conseguindo captar o espírito irreverente e policticamente incorrecto do
original da autoria de Jeff Whitty e transportá-lo para a realidade portuguesa,
por vezes com resultados geniais. Em termos de encenação está muito próxima do
original, o que quer dizer que Rui Melo tem em si tudo o que o é preciso para
dirigir um musical de sucesso, imprimindo o ritmo certo à peça e dirigindo o
seu elenco com mão de mestre.
É
impossível resistir aos encantos das marionetas, que são tão humanas quanto os
actores que lhes dão vida. A empatia entre eles e o público é imediata e por
minha vontade teria ficado horas sem fim na sua companhia.
Para os
mais distraídos, para não irem ao engano, isto é uma espécie de uma versão para
adultos da RUA SÉSAMO ou d’OS MARRETAS, onde tudo pode acontecer. Apesar de
apelar à criança atrevida que há em todos nós, não é aconselhável a crianças
muito pequenas. A linguagem é deliciosamente adulta, por vezes hilariante e se
há coisa que não falta é sexo... Como alguém diz e muito bem, o sexo vende
sempre!
Quanto às
canções, da autoria de Robert Lopez e Jeff Marx, são das mais cómicas que foram
escritas para um musical e têm uma melodia que as torna apetecíveis. Ficam
facilmente no ouvido e se saírem do teatro a trautearem uma ou duas não se
admirem. É bom sinal!
No final
da sessão a que assisti, o público aplaudiu de pé e pelos sorrisos que vi, os
responsáveis por esta produção têm um grande e merecido êxito nas suas mãos. O
espectáculo vai estar em exibição até dia 2 de Abril no Trindade e aconselho a
reservarem já os vossos bilhetes, para depois não se arrependerem. Pessoalmente,
estou seriamente a pensar voltar lá.
Acreditem,
vão viver cerca 90 minutos de pura diversão e nunca irão esquecer este
AVENIDA Q e as coloridas e irreverentes personagens que por lá vivem! Só mais
uma coisa, não se esqueçam que isto é um musical e é suposto aplaudir-se no
final de cada canção. Vão lá fazer uma visita a esta AVENIDA Q e depois
digam-me o que acharam. E como “tudo nesta vida é só para já” não percam e vão já
reservar os vossos bilhetes. A
não perder!
Classificação: 9 (de 1 a 10) / Fotos de Paulo Sabino e outros
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