Uma casa no Alentejo. No meio de diversos caixotes e muitas memórias, uma mulher recorda o pai recentemente falecido.
O texto é adaptado do livro de José Luís Peixoto, que não li e assim não posso fazer comparações entre os dois. Pelo que me parece trata-se de um monólogo intimista e emocional, que facilmente poderá criar uma forte e mesmo comovente ligação com os espectadores. Infelizmente na interpretação de Sandra Barata Belo isso não acontece.
Esta actriz entrega-se fisicamente à sua personagem, contorcendo-se, fazendo caretas, sujando-se com farinha, terra e água (o efeito do repuxo em direcção ao holofote é lindíssimo). Mas Sandra Barata Belo esqueceu-se de que se devia entregar emocionalmente ao papel, que lhe devia ter entregue o seu coração e a sua alma. A sua presença é fria, não cria qualquer empatia com o público e dei por mim a prestar mais atenção às bem conseguidas projecções de vídeo sobre as caixas, do que à sua interpretação.
A encenação é da autoria da própria Sandra Barata Belo e de Cátia Ribeiro. Acho que ambas se preocuparam mais com o aspecto físico da produção do que com a alma do texto. Gostava de me ter sentido emocionado ou mesmo de ter derramado uma lágrima, mas fiquei completamente indiferente às memórias da personagem.
O melhor momento da peça acontece quase no início. Quase sem querer, a personagem toca numa bacia e nesse momento a imagem de um vulto fantasmagórico é eficazmente projectado sobre as caixas. O pior momento é a sequência em que a personagem recorda o hospital onde o pai estava internado.
Como já devem ter percebido, não gostei e, para além disso, achei os 60 minutos de duração da peça muito longos.
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