Fevereiro é, para além do mês do Carnaval, o mês dos Namorados e assim serviu de inspiração ao tema deste mês para o Teatro Rápido – POR AMOR. Quatro micro-peças que nos falam do amor ou da falta dele.
Num quarto sórdido de uma pensão rasca, uma puta velha recusa-se a aceitar o dinheiro do seu cliente, pois por momentos ela sentiu amor com ele. É esta a premissa de ONDE É QUE JULGAS QUE VAIS? a nova peça de Tiago Torres da Silva, que o mês passado nos deu PODE BEIJAR A NOIVA. Ao contrário do que aconteceu o mês passado, desta vez gostei da sua peça. Gostei do seu ar teatral, do ambiente pesado e do texto dramático com pequenos apontamentos de humor negro. Como a velha puta, Fernanda Neves é excelente e estranha como uma diva decadente a quem já nada interessa; a seu lado, João Passos é o cliente satisfeito e, de certa forma, triste. Ao ver a peça só me lembrava do filme CABARET; esta velha puta bem poderia ter sido Sally Bowles nos seus tempos áureos.
O título NÃO SOU EU, ÉS TU exprime de forma correcta a relação deste casal, em que a mulher bem podia ser mãe do homem; apesar de se amarem, ambos se sentem inseguros e receosos de uma relação que parece condenada ao fracasso. Para que o texto realista funcionasse era necessário que houvesse uma grande química entre os actores e, nas mãos capazes de Rosa Villa e Hugo Costa Ramos, isso não é problema. É fácil acreditar nestas personagens e sentir as suas emoções. Quanto ao texto, mais uma vez Ana Saragoça consegue um bom equilíbrio entre o humor e o drama. Os primeiros minutos da peça não deixam antever o que aí vem e isso é bom!
GOOD BYE é o que esta professora de inglês, uma mulher divorciada, diz ao seu muito jovem amante no final da peça. Pelo meio, enquanto o rapaz dorme na cama do hotel, ela dialoga consigo mesma, surpreendida pelo que acabou de fazer, num misto de alegria e arrependimento. Olhando para Cristina Areia não é de estranhar que um jovem rapagola a desejasse. Com uma bonita figura e uma voz sussurrante, ela vive esta mulher com prazer e envolve-nos neste seu segredo, fazendo-nos cúmplices do seu “affair”. A encenação sóbria de João Ricardo deixa-a brilhar, naquela que é a minha peça favorita deste mês. Só mais uma coisa, adorei a pequena cama!
Para terminar, na sala 4, uma bonita jovem pergunta ONDE É QUE ESTAVAS QUANDO TE VI PELA ÚLTIMA VEZ e, por momentos, confunde-nos. Sozinha em casa, ela imagina uma relação que ainda não teve, que deseja ter, mas que ao mesmo tempo receia. Lídia Muñoz dá vida a esta jovem frágil e doce, que apetece proteger e cuidar. O olhar triste e suplicante que por vezes nos deita é irresistível. O final é comovente e é com pena que a deixamos sozinha na sua sala.
Assim vai o amor no Teatro Rápido. Os finais felizes nem sempre acontecem na vida real, mas o facto de estas peças nos fazerem sentir alguma coisa, mesmo que não seja amor, é de louvar. Um mês equilibrado, com um grupo notável de actores. Agora, por amor de Deus, saiam de casa e vão até ao Teatro Rápido.
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