domingo, 2 de junho de 2013

ESCURO de Marcantonio Del Carlo


Quatro universitários chateados com a vida e sem vislumbrarem qualquer futuro possível, decidem fazer algo drástico para mudar o sistema que os asfixia. Assim, durante uma festa da universidade, raptam um finalista e uma caloira, a que eles chamam alvos, e recorrendo à violência fazem deles um exemplo.

Tal como o título indica, o tema é negro, muito negro. O texto de Marcantonio Del Carlo retrata a realidade de uma geração que se vê sem futuro e que não sabe muito bem o que fazer com as suas vidas. Estes estudantes estão fartos de tudo e de todos, até deles próprios e precisam de algo que os faça sentir vivos, mesmo que isso seja um acto violento que nada vai mudar. Numa época de redes sociais, o importante é fazer qualquer coisa que os outros cometem e o seu sucesso mede-se pelo número de comentários e “likes”. A actualidade passa por aqui e é assustadora.

Em termos de encenação, também de Marcantonio Del Carlo, acho que a peça podia ser melhor. A presença dos “narradores” era dispensável e acaba por cortar um bocado a acção que acaba por se arrastar sem necessidade A ideia é forte, mas cadeiras e garrafas que se movimentam sem razão aparente acabam por nos distrair. Por outro lado gostei bastante das mudanças de cena, que achei eficazes e me puseram a pensar como é que os actores se movimentam no escuro sem embaterem em nada.

No elenco destacam-se quatro actores. Como João, o cérebro por detrás da ideia, Miguel Ponte é sexy, malévolo, sedutor, manipulador e louco; parece muita coisa para um homem só, mas ele dá conta do recado. A ajudá-lo a pôr a ideia em prática ele tem uma maquiavélica Raquel Martins como Maria (acho que era este o nome da personagem); o seu olhar penetrante nunca nos faz duvidar das suas intenções. Amadeu Mendes convence como o finalista-alvo, um jovem frágil resignado com o seu destino; existe uma química entre ele e Miguel Ponte que parece esconder uma possível atracção (ou então é a minha imaginação gay a trabalhar) que não agrada às parceiras deste último. Como a caloira-alvo, Ana Luísa PInto é extremamente realista, fazendo-nos acreditar na sua dor e no seu medo; os seus gritos finais são verdadeiramente assustadores.

Até agora nunca tinha visto nenhuma peça de teatro universitário e, apesar de algumas falhas, fiquei surpreendido pelo positiva. É verdade, podia ser melhor; mas o resultado final é mais interessante que muita coisa dita profissional que por cá se faz. 

Para mais informações sobre a peça e horários visitem http://oartec.blogspot.pt/


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