segunda-feira, 4 de julho de 2022

O AMOR É TÃO SIMPLES de Noël Coward

O termo “screwball comedy” (qualquer coisa como “comédia maluca” em português) nasceu na Hollywood dos anos 30 e era um subgénero da comédia romântica sofisticada, onde, geralmente, havia uma guerra de sexos, as mulheres dominavam a acção, os homens viam a sua masculinidade ameaçada, e gerava-se sempre uma grande confusão entre as personagens. Pessoalmente, adoro o género! Bons exemplos do mesmo são o IT HAPPENED ONE NIGHT, MY MAN GODFREY, THE LADY EVE e BRINGING UP BABY. 

Tudo isto para vos falar de O AMOR É TÃO SIMPLES (PRESENT LAUGHTER no original), uma comédia escrita por Noël Coward em 1939, que encaixa perfeitamente nesse género, e que estreou para nosso puro deleite no Teatro da Trindade em Lisboa.

Como o próprio Diogo Infante diz na “folha de sala”, “em equipa vencedora não se mexe” e depois da fantástica produção de CHICAGO, juntaram-se todos de novo para nos dar mais um grande espectáculo. São praticamente duas horas de pura diversão, muita confusão e muita gargalhada, com a tradução de Ana Sampaio a importar a história para Lisboa e a adaptá-la de forma brilhante para a nossa realidade (até Florbela Espanca tem direito a um momento teatral).

Quanto a Diogo Infante, confesso que não lhe conhecia a veia cómica e isso foi uma agradável surpresa para mim. O seu personagem, Guilherme de Andrade, é um charmoso e arrogante actor de meia-idade que todos adoram, é maior que a vida e Infante é simplesmente fantástico no papel. Mas Infante também é excelente na direcção, com um cómico timing perfeito e um ritmo que flui sem quebras. Noutra coisa que ele também foi muito bom foi na escolha do elenco, que dirige com mão de mestre.

Como é costume nestas “comédias malucas”, as personagens femininas acabam por ter sempre um grande peso e esta peça não é excepção, dando a todas elas oportunidade de brilhar. Gabriela Barros é a jovem e ingénua aspirante a actriz, Rita Salema é a prática secretária de língua afiada, Ana Brito e Cunha a assertiva e confiante ex-mulher, Patrícia Tavares é a predadora e atrevida esposa de um amigo e Ana Cloe é a deliciosa governanta russa (mas também uma tia ricaça). Quanto a eles, Cristóvão Campos é um autor pseudo-intelectual que começa a sentir “coisas” por Guilherme, António Melo é o amigo traído, Miguel Raposo o amante destroçado e Flávio Gil o mordomo maroto (parabéns a Infante por estar a dar a mão a este jovem e talentoso actor, que era extraordinário no seu solo na peça MÁRIO) Todos estão excelentes nos seus papéis e foi com prazer que, no final, me levantei para os aplaudir de pé.

Já devem ter percebido que gostei muito da peça, que recomendo sem reservas. Numa altura em que o Mundo está triste e sem graça, sabe bem escapar à realidade por duas horas onde o amor não é assim tão simples, mas é pretexto para um elegante e divertido entretenimento. Infante e o seu elenco merecem a vossa visita e, acreditem, vão ter uma fantástica noite (ou matiné). Uma “comédia maluca” a não perder!

Elenco: Diogo Infante (Guilherme), Ana Brito e Cunha (Lis), Ana Cloe (a governanta e a tia de Henriqueta), António Melo (Hugo), Cristóvão Campos (Roberto), Flávio Gil (Quim), Gabriela Barros (Henriqueta), Miguel Raposo (Mateus), Patrícia Tavares (Joana), Rita Salema (Mónica)

Equipa Criativa: Texto de Noël Coward • Tradução de Ana Sampaio • Música de Nuno Rafael e Filipe Melo • Letra de Rui Melo • Cenografia de F. Ribeiro • Figurinos de José António Tenente • Desenho de luz de Paulo Sabino • Encenação de Diogo Infante

Classificação: 8 (de 1 a 10) / Fotos: Filipe Ferreira






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